Não me lembro mais o título. Não tenho mais a revista. Então, resolvi chamá-lo (tentando acertar) de Esperança, esse maravilhoso texto do Fernando Caramuru. Merece ser saboreado! A expressão "beijo de agora na boca de amanhã", por si só, já bastaria. Eis o texto:
Anemone (Flor-da-esperança)
"Em duas situações extremas, a esperança não pode acontecer — quando todos os desejos são plenamente satisfeitos e quando eles deixam de existir. Ambas são posições de hipotético absoluto da existência, qual o céu das religiões e o inferno de Dante. Naquele, a felicidade é completa e eterna; neste, quem nele entra, deixa todas as esperanças na porta, para sempre.
Afora isso, ela é luz que alumia as noites escuras da existência humana e só vai embora quando o sol anuncia o dia. É a flor dama-da-noite, que começa a emanar perfume somente quando as últimas fímbrias do ouro solar rumam-se para o imperceptível, via linha do horizonte. O pio da coruja sob o manto noturno é um referencial de esperança.
Esperança é o sonho que nasce dos pesadelos. Ela surge altaneira no momento em que os desejos são contrariados pela “lógica rocha” (De Bono), a ciência sem humildade nas conclusões, os valores e as crenças únicos e excludentes.
É o beijo de agora na boca de amanhã.
É a estrela-guia da libertação da saga dos ineducáveis, desenganados, subjugados desocupados, diferentes, injustiçados, deficientes, desamados, loucos, excluídos.
Diga-se da esperança o que John Dewey falou do desejo: 'A atividade que procura caminhar para romper o dique que a detém'.
Ter esperança não é, portanto, quedar-se como os anacoretas, contemplando o que é, querendo-o de outra forma bem melhor. É, essencialmente, busca incessante, luta — só e com os parceiros— por aquilo que não tem lugar agora, mas, acredita-se, terá um dia.
A expressão “andar de esperança” é usada em Portugal para se referir às mulheres grávidas.
Esperança é o filho que vai nascer. Devem-se tomar todos os cuidados pré-natais, levar um tempo para o nascimento acontecer; para que ele aconteça, é preciso muito esforço da parturiente e, quase sempre, a ajuda dos outros.
O desejo (a esperança) não pode ser tênue, pífio. Desse modo, não passa de veleidade, não é força suficiente para afastar a “doença mortal” (Kierkegaard) dos homens: a desesperança.
Essa doença aparece sempre que o desejo briga com a imaginação e esta sai ganhando — a coisa desejada não será obtida, garante a imaginação.
A Pedagogia da Esperança deve ser cultivada em todo processo educacional, seja ele sistemático ou assistemático, já que o homem e o mundo são produtos inacabados, passíveis de erros e acertos, desamor e amor, involução e evolução.
Com ela os homens aprenderão que, quando se deseja, se luta e se une para se conseguir o que se quer, o impossível não existe. E mais que isso, o que se tornou possível passa-se a provável".
FRAGA, Fernando Caramuru Bastos. Editorial.
Dois Pontos: Teoria e Prática em Educação,
Belo Horizonte, Vol.3, nº 24, p.3, Jan/Fev 96.
Fonte:Anemone
olá Gilamr!
ResponderExcluirAdorei seu poste...realmente quando queremos algo é só nos concentrarmos no alvo.
Passa no meu Blog e pega o selo "Prêmio Dardos" pra você, você merece...
Bjs meu querido
Mila Lopes
Gilmar...você não imagina como fez bem para o meu coração ler a sua postagem.
ResponderExcluirEu estava realmente precisando dessa unção na alma.
E não esquecer jamais: "o que se tornou possível passa-se a provável."
Muito bom estar aqui e sair com mais leveza.
Um beijo carinhoso
Oi Gilmar! Eu havia escrito um comentário para essa sua postagem - você não recebeu? Me avisa? Eu gostei tanto desse texto, escrevi o comentário com tanto carinho... Um beijo, meu amigo! Deia.
ResponderExcluirOi! Pelo visto o meu comentário se perdeu - rsrs! Se incomoda se o fizer de novo? Com outras palavras, pois hoje já não sou a mesma que ontem. Mudamos sempre! Continuo, no entanto, achando que o título emprestado que você deu ao texto o serve como uma luva.
ResponderExcluirA ideia de termos esperança e que ela nasça de um momento de caos, de falta de balanço, foi reveladora para mim.
No outro comentário falei um pouco sobre evitarmos o inferno pois a falta de esperança é fatal ao homem. Hoje, contudo, prefiro comentar sobre o paraíso absoluto, que dispensa esperar por algo que ainda não atingimos.
Pois que alcancemos o paraíso quando tudo o mais aqui na terra tivermos desejado, esperado. Quero, muito, provar o gosto hoje do beijo que darei na boca de amanhã!
espero que esse chegue! rsrs. Sua amiga e admiradora, Deia.
Fiquei aqui pensando...
ResponderExcluirO desejo como sinônimo de esperança? Tem lógica, uma vez que alguns teóricos dizem por aí que um homem que não seja desejante está morto. Sempre haverá o desejo. E talvez ele realmente seja a mesma face da esperança.
Mas o desejo como esperança se depara com dois fatores: a imaginação e a realidade. A imaginação pode tender ao negativo, matando o desejo através dos próprios processos mórbidos da psique do sujeito. Ou aliená-lo, fazendo com que ele despreze os dados de realidade, iludindo-o. Já a realidade deve ser analisada com olhos saudáveis e maduros para que também não pregue suas peças. A realidade pode nos dar "o contorno" do nosso desejo, adequando-o e até fornecendo caminhos para sua concretização.
Um desejo sem contato com a realidade é como uma esperança vã, imatura, inocente. Esse tipo de esperança me incomoda um pouco.
Gosto da esperança que nasce da batalha e do movimento pró vida que existe em cada um de nós, que nos responsabilizamos pelas nossas escolhas a todo instante.
Bjos!