sábado, 28 de junho de 2014

O tolo que era sábio

Metáfora
Moedas



Todos os dias o Mullah Nasrudin ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com a seguinte situação: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin sempre escolhia a menor.



A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nastudin sempre ficava com a menor. Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira. Chamando-o a um canto da praça, disse:



— Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros.



Nasrudin lhe respondeu:



— O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei, usando essa estratégia.



E cheio de sabedoria acrescentou:



— Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente. Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem...


terça-feira, 24 de junho de 2014

Sorria!



Sorria
Outros Autores
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distância, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.
Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos...
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Você... não vá embora.
Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.

Charles Chaplin





sexta-feira, 20 de junho de 2014

Haja capim

Humor



No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta: 

-Quantos rins nós temos? 

-Quatro! - Responde o aluno. 

-Quatro? - Replica o professor, arrogante, daqueles que sentem prazer  em tripudiar sobre os erros dos alunos. 

-Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala. - ordena o  professor a seu auxiliar. 

-E para mim um cafezinho! - Replicou o aluno ao auxiliar do mestre.

O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. O aluno era,  entretanto, segundo dizem, o humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais  conhecido como o 'Barão de Itararé'.

Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso  mestre: 

-O senhor me perguntou quantos rins 'nós temos'. 'Nós' temos quatro: dois meus e dois seus. 'Nós' é uma expressão usada para o plural.Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.

E haja capim!

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sapo Escaldado

Meus Rabiscos

Acostumamo-nos a não prestar atenção nas pequenas coisas. Habituamo-nos às mudanças bruscas e não às graduais e lentas. Há adaptações cegas às pequenas mudanças...

Somos mais ou menos assim. Somente aquilo que nos toma de assalto nos faz gritar e pular. Aquilo que nos sequestra a paz e violenta nossa boa índole, a inocente confiabilidade nos outros. 

Em muito nos parecemos com a metáfora do sapo escaldado, da qual Peter Senge faz uso na “Quinta Disciplina”. É que, se colocarmos um sapo numa panela de água fervendo, ele tentará sair de qualquer forma, não vai se aquietar um só instante e tentará, por todos os meios, pular fora. Todavia, se colocarmos água fresca, numa temperatura agradável, ele simplesmente não fará nada. Vai ficar quietinho. Vai adorar a paz do aconchego. E se acendermos o fogo sob a panela com água fresca, onde se acomoda o sapo e aumentarmos gradativamente a temperatura, ainda assim, ele continuará lá. E mais, ficará quietinho, como quem gosta do que recebe.  Quanto mais a temperatura subir, mais ele continuará estático. Sem poder de reação. Quanto mais a temperatura aumentar, mais ainda o sapo vai se calar, até que, escaldado, cozido, fenecerá com a mesma empáfia de sua acomodação. O mecanismo interno, que responde pela detecção de ameaças à sua sobrevivência é regulado apenas para identificar mudanças bruscas. Súbitas alterações. O sapo é inepto às ameaças graduais.

Quantas vezes e em tantas circunstâncias, também nós, meros mortais, criamos o hábito da plena quietude. Numa ilusão de ótica, tudo parece calmaria no mundo que mora lá fora. Entretanto, ao calor da vida, dos desencontros, tropeços, sofrimentos doídos, relações rasgadas e desapontamentos de toda sorte, essa mesma quietude faz abrir uma lacuna, uma grande distância. Já não vemos nada. Não enxergamos nada. Não escutamos nada. Somos consumidos, aos poucos, por esse mesmo mundo, do qual esquecemos fazer parte.

Criamos o hábito da acomodação nos pequenos e diferentes mundos, ricos em ausência de criticidade, vazios em consciência cidadã e humanística. Por vezes somos também admoestados a permanecer no mais absoluto silêncio, quando as poderosas mídias, com suas hipocrisias, bairrismos e idiossincrasias, faz o convencimento do "jeito certo" que cabe a cada um. É a submissão ao escárnio da “massa”, falida em vontade e autoestima... Zombeteiros de plantão, por vezes somos levados a acreditar, com fé inarredável, de que a verdade vem sempre de outra direção, é sempre soprada por outros ventos. E, na cegueira de abismos emocionais, ignoramos o sublime livre arbítrio a que temos direito exercer.

Marina Colasanti fala do quanto a gente se acostuma às coisas. A gente se acostuma ao cansaço do cotidiano; a pagar mais pelo que se quer; a travar batalhas sem fim, para ganhar o pão de cada dia, afinal os sonhos têm preços. “... A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma".

Feito o sapo escaldado na aconchegante água morna, quanto mais a voz se cala, não se sente mais o fogo brando... A gente teima em "empurrar com a barriga" os desconfortos a que somos submetidos, porque assim permitimos... E sem perceber, aos poucos desfalecemos. 

Penso que o estágio adequado é o de inconformismo. É preciso aprender a dizer não, quando a vontade é de dizer não. É preciso aprender a dar passos em direção oposta, a retroceder dois passos e avançar apenas um... 

Não é tarefa fácil a rebeldia. Não é decisão fácil a oposição. E as discordâncias não podem significar uma mera bandeira de resistência. Não se trata de “pintar a cara” e estabelecer mais um rótulo. É, antes de tudo, uma questão de dignidade. Trata-se da não aceitação da vantagem fácil. Da recusa ao egocentrismo mesquinho. Trata-se da crença na ética. Trata-se de enxergar, sem o rubor da vergonha, a mesma face no espelho, todos os dias ao acordar.

Não é uma questão de acolher conceitos impositivos ou habilmente incutidos. Trata-se do hábito de cultivar o discernimento e a criticidade. Não é a atitude da conciliação passiva, submissa e cabisbaixa ante o domínio da eloquência dos que se vestem de poder, dos travestidos de bondade e serventia. Trata-se de refutar, com a mais cristalina das vontades, a opulência de moedas saqueadas na exclusão social. Trata-se de educar-se na retidão e, sobretudo, de ser leal a si mesmo. Trata-se da recusa intensa, indecente até se for preciso, em não tolerar ser fantoche em qualquer que seja o palco. Trata-se de não permitir ser cozido vivo, não ser levado à morte, ao imobilismo estratégico e vil. Trata-se de escolher a vida. Trata-se de viver, no sentido mais intenso e completo que o verbo permitir.

Cabe aqui resgatar uma fala providencial da Elenita: “Não se trata do tamanho do desafio, se trata do seu tamanho. Ou você é uma pessoa que se deixa deter ou é uma pessoa que não se deixa deter. A escolha é sua. Pensamentos conduzem a sentimentos, sentimentos conduzem a ações e ações conduzem a resultados”.
O hábito pode tornar-se aceitação passiva do que não pode mais ser tolerado.



Eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura”.
Fernando Pessoa




Publicado originalmente em 23 de maio de 2010

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sementes Diferentes

Metáfora
Semeando

A casa era bonitinha. Apenas o terreno em frente, maltratado, abandonado, oferecendo aspecto desolador.


Manhã de feriado. O marido, sem ter o que fazer, estava olhando e pensando. A mulher fora passar o dia na casa da mãe. Ele foi buscar a enxada.


Cortou fundo, revirou a terra, quebrou torrões. Trouxe adubo, tornou a remexer para misturar bem.


No dia seguinte, quando voltasse do trabalho, traria sementes de verdura e a horta estaria pronta.


A esposa só voltou à noite e nada viu. Madrugada, lá se foi ele. Levantou-se ela e, ao ver o terreno preparado, teve uma ideia: plantaria flores.


Correu ao mercadinho, comprou sementes e as plantou. O marido, por sua vez, plantou as sementes de verdura. Sem conhecimento dos planos um do outro, ficaram esperando e observando.


Quando as folhinhas de um verde pálido, sobrepujaram os torrões de barro (as sementes haviam germinado), o marido constatou que não fora aquilo que ele plantara; por isso, arrancou tudo.


Quando chegou a vez da verdura, com igual raciocínio, a esposa fez o mesmo.


Continuaram esperando e... nada.




No lar, onde o casal não vive em harmonia, não trabalha em cooperação na educação dos filhos, o fenômeno é muito parecido. Só que o prejuízo é muito maior, pois os canteiros são os filhos.


domingo, 8 de junho de 2014

Tropeções da Inteligência



Outros Autores
 Rubem Alves

Há a história de dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para um circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar no monociclo. Seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto, e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O QI é muito baixo...”.

Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.

Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto que seu amigo, de QI alto, brincava tristemente com a bola, último presente. Finalmente, chegaram e foram soltos.

O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver. Para exibir sua inteligência ele tivera de se esquecer de muitas coisas. E este esquecimento seria sua morte.


 E podemo-nos perguntar se o desenvolvimento da inteligência não se dá, sempre, às custas de coisas que devem ser esquecidas, abandonadas, deixadas atrás...


Rubem Alves (Estórias de quem gosta de ensinar)