domingo, 31 de agosto de 2014

O Encanador e o ácido hidroclórico

Metáfora



Um encanador, de origem estrangeira, escreveu à uma certa indústria de  produtos químicos, afirmando que o ácido hidroclórico desentupia rapidamente os canos e perguntando se podia usá-lo ou não. Um cientista da indústria respondeu:



Prezado Senhor:


Apesar de a eficácia do ácido hidroclórico  ser indiscutível, efeitos coincidentes disfuncionais tornam sua  utilização comercial, no caso vertente, um fato arriscado que este escritório não pode avalizar.


O encanador respondeu agradecendo à indústria por lhe dizer que o ácido era bom para ser usado. O cientista ficou preocupado com a incompreensão e levou a correspondência a seu chefe, também cientista, que por sua vez escreveu ao encanador o seguinte:



Prezado Senhor:


O ácido hidroclórico, conquanto debilitador atomístico altamente eficaz, dá origem a um forte resíduo quando interage com substâncias de base metálica, introduzindo uma avaria estrutural permanente, fato que motiva endosso definitivamente negativo a seu pedido.



O encanador voltou a escrever à indústria, dizendo que concordava com ele, que o ácido parecia mesmo “desentupir muito bem os canos”, e agradecia a ajuda da indústria. Os dois cientistas, bastante preocupados com aquela falha de comunicação, levaram o problema ao executivo, chefe deles, que não era cientista. Este abanou a cabeça e escreveu a encanador:



Prezado Senhor:


Não use ácido hidroclórico. Ele simplesmente arrasa com os canos e arrebenta tudo.



Logo depois, alguns dias mais tarde, a indústria recebeu outra carta do encanador, que dizia:



Prezado Senhor:


Obrigado, mas já descobri isso sozinho.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Morango do Despenhadeiro



Outros Autores
Morder o morango

Um sujeito caiu num barranco e se agarrou às raízes de uma árvore. Em cima do barranco, um urso enorme queria devorá-lo. Embaixo, esperando que ele caísse, estavam seis onças famintas. O sujeito não sabia para onde olhar, estava totalmente desesperado.



Em determinado momento, olhou para o lado e viu um morango vermelho, parecendo suculento. Num esforço supremo, esticou-se todo e conseguiu pegar o morango. Comê-lo foi um prazer supremo.



Deu para entender? Talvez você pergunte: “Mas e o urso? E as onças?”


Ora, dane-se o urso! Azar das onças! Coma o morango!


Entre tantas preocupações da vida:  o mercado, a empresa, os problemas, as dificuldades, a competitividade , ainda pulsa a vida e há coisas na vida que não devem ser esquecidas ou relegadas ao depois, quando for possível. É aqui e agora...                                                        

Roberto Shinyashiki  - Revista Exame n.º 6 – março/99 – Ed. 684

sábado, 23 de agosto de 2014

Luvas



Humor

Calcinha e luva
Um jovem estudante, ao passar em uma loja em São Paulo, resolveu comprar um belo par de luvas para enviar a sua jovem namorada, ainda virgem, de família tradicional mineira, a quem muito respeitava. 

Na pressa de embrulhar, a moça da loja cometeu um "pequeno" engano, trocando as luvas por uma CALCINHA! 

O jovem não notando a troca, remeteu-a junto com a seguinte carta:



São Paulo, 30 de maio de 1998

Querida, 

Sabendo que dia 12 próximo é o Dia dos Namorados, resolvi te mandar este presentinho. 

Embora eu saiba que você não costuma usar (pelo menos eu nunca te vi usando uma), acho que vais gostar da cor e do modelo, pois a moça da loja experimentou e pelo o que vi, ficou ótima. Apesar de um pouco larga na frente, ela disse que é melhor assim do que muito apertada, pois a mão entra com mais facilidade e os dedos podem se movimentar a vontade. 

Depois de usá-la, é bom virar do avesso e colocar um pouco de talco para evitar aquele odor desagradável. 

Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que breve irei pedir a teu pai, além de proteger o local em que colocarei aquilo que você tanto sonha. 

Um beijo (no lugar onde você irá usá-la). 

PS: Não espere eu retornar para estreá-la. Quero que todos os meus amigos vejam você com ela. E depois esfregue na cara daquelas suas amigas invejosas, pois eu nunca vi nenhuma delas usando.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Metamorfose


Meus Rabiscos

Foto: Casulo, de Ana Marques

”...Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa.
Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava, impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las. 
Curvando por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito, em vão. Era necessária uma paciente maturação,o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol; agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperada e alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão.
Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois, hoje, entendo bem isto: é um pecado mortal forçar as grandes leis. Temos que não nos apressar, não ficarmos impacientes, seguir com confiança e ritmo eterno”.
Nikos Kazantzákis
Metamorfose. Fonte:http://www.pensador.info/autor/Nikos_Kazantzak


Tudo tem o seu tempo certo. E como aprender a vida se assemelha à metáfora, à metamorfose! Veja como as convidativas e necessárias rupturas incessantemente desafiam. É como vencer o invólucro! É preciso trabalhar esse processo... Tempo!

Os ambientes onde construímos nossas aprendizagens do cotidiano são igualmente eivados de possibilidades contraditórias, diferenças, surpresas e tantos outros senões... É que lidamos com o ser humano, com sua incompletude, sua incerteza, sua beleza, sua mágica exuberância e sua contundente complexidade, de seus múltiplos e diversos valores.

Ali, nesses mesmos ambientes, nos confrontamos, por certo, com tropeços do nosso discernimento, com a insensatez que perambula solta e com a pequenez que retumba da turbulência de tempos idos, ainda não mitigada. Feridas expostas, quase gangrenadas. Dores lancinantes.

Precipitamos escolhas e embarcamos a rumos desconhecidos. Depois, mal resolvidos, queremos a todo custo desembarcar do trem a toda velocidade. Queremos pular. E pulamos mesmo! É quando nos damos conta das feridas que agora marcam o pulo. Cicatrizes das escolhas.

Quantas e quantas vezes sopramos mais do que devíamos! Alimentamos mais ainda as dores, porque não lhe concedemos o tempo de cura! As frustrações viram mágoas, o hálito quente da obsolescência faz aumentar a perda. A ira se aquece no sopro do ostracismo, fica à margem dos passos. A sede de justiça, vilipendiada, ao calor do orgulho ferido, fulmina a verdade num silencioso "autoextermínio". A integridade, ferida de morte, na quentura do revide, abraça o revanchismo tosco, inconsequente e bestial! Quantas vezes...

No afã de respostas, reparos à dor sentida, nos metemos num ciclo de marginalidade, onde tornamo-nos algozes das utopias que forjaram nossos já combalidos valores. A consciência do duradouro esfacela-se na escaldante incompreensão de efemeridades. O infinito dos sonhos vira ponto final, finito das buscas.

Sopramos mais do que devíamos... Protagonizamos grandes desencontros cravados de interpretações dúbias de nós mesmos. Já não há estupefação! Vaidades exacerbadas servem à subjetivação da empáfia. Teimamos abdicar da verdadeira condição de aprendizes. Não se desenvolve a atitude da paciência, do diálogo, do autorespeito, do autocuidado. Os compromissos evolutivos são desmanchados.

A humanidade, desencontrada de si mesma, faz descortinar esses cenários. Assistimos, impávidos, balas perdidas ceifando inocentes; transgressões no trânsito virando desmanche de famílias; avidez por dividendos virando massacre social, pobreza esquecida e estigmatizada; amores desencontrados virando jazigos que silenciam a esperança. E assim, cada um, filho das lágrimas que violentam a vida, passa a negligenciar o respeito a si e outrem, maculando a dignidade. Sopramos mais do que devíamos... Julgamos fácil, ao sabor das próprias incompletudes cegadas.

A reversão dessa chacina exige, antes de soprar em demasia, o imprescindível mútuo respeito, procurando resolver as discordâncias, não pela aceitação passiva ou autoviolentadora, mas pela síntese dos contrários, por uma postura crítica, revisionista e compreensiva, à luz de uma visão holística requerida. É indispensável aprender a confiar no ser humano, a estabelecer um credo de fé na humanidade.

A Psicopedagoga  Antonia Nakayama argumenta, em relação ao aprendizado, que é preciso levar na alma um pouco de marinheiro e o entusiasmo pela travessia; um pouco também do pirata, aventureiro de mares desconhecidos e um pouco de poeta, para mostrar a busca do aprender como metáfora da própria vida, e ainda, muita paciência para esperar o momento em que se possa assumir o controle do próprio barco, para somente depois, alcançar outros tantos portos com o que se construiu de conhecimento e de si mesmo. O processo de apreender a vida, no qual somos atores e autores – nós nos confundimos nesse palco –, só pode ter como meta a autonomia, mas não nos esqueçamos da borboleta em seu casulo... É preciso ser paciente nessa construção, posto que isso pressupõe a construção do outro e de si.

É preciso servir atitudes de empatia e inclusividade, enquanto atenção não preferencial, enquanto posturas acolhedoras das polaridades que transitam no nosso universo. O isolacionismo não tem lugar. De costas e escondido das pessoas que partilham o mesmo trajeto que eu, não consigo ver onde erro, não tenho a dimensão dos meus acertos. Não avanço. Corro o risco de sofrer o mal da paralítica arrogância.

O convite se coloca para aprender a trabalhar as ansiedades, no ritmo e tempo exigidos, a corrigir caminhos, retomar rumos, autocorrigir-se constantemente, propor e aceitar mudanças, melhorias graduais de nós mesmos, gerando assim a irreversibilidade dos grandes encontros de vida conquistados.

Proponho então, antes dos afoitos sopros, que aprendamos a semear sementes da coragem, da vontade, da superação, da disposição e de valores humanos. E que cada um as aqueça, no casulo do coração, para que os brotos possam ser transplantados a outros que caminham a ermo, na escuridão dos seus desencontros.



Publicado originalmente em 04 de junho de 2010 








sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A árvore dos problemas

Metáfora
Mão na árvore



Esta é uma história de um homem que contratou um carpinteiro para ajudar a arrumar algumas coisas na sua fazenda.

 O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil. O pneu do seu carro furou. A serra elétrica quebrou. Cortou o dedo. E ao final do dia, o seu carro não funcionou. 

O homem que contratou o carpinteiro ofereceu uma carona para casa. Durante o caminho, o carpinteiro não falou nada. 

Quando chegaram a sua casa, o carpinteiro convidou o homem para entrar e conhecer a sua família. Quando os dois homens estavam se encaminhando para a porta da frente, o carpinteiro parou junto a uma pequena árvore e gentilmente tocou as pontas dos galhos com as duas mãos. 

Depois de abrir a porta da sua casa, o carpinteiro transformou-se. Os traços tensos do seu rosto transformaram-se em um grande sorriso, e ele abraçou os seus filhos e beijou a sua esposa. 

Um pouco mais tarde, o carpinteiro acompanhou a sua visita até o carro. Assim que eles passaram pela árvore, o homem perguntou: 

— Porque você tocou na planta antes de entrar em casa ??? 

— Ah! esta é a minha Árvore dos Problemas. 

—Eu sei que não posso evitar ter problemas no meu trabalho, mas estes problemas não devem chegar até os meus filhos e minha esposa. 

— Então, toda noite, eu deixo os meus problemas nesta Árvore quando chego em casa, e os pego no dia seguinte.

— E você quer saber de uma coisa? 

— Toda manhã, quando eu volto para buscar os meus problemas, eles não são nem metade do que eu me lembro de ter deixado na noite anterior.