domingo, 26 de julho de 2015

Acarmô?!


Numa estradinha, o mineiro dono de um alambique, dirigindo sua caminhonete bem velhinha e carregada de pinga da roça, num descuido danado entra na traseira de uma BMW novinha em folha, que fazia uma manobra para entrar num sítio.

O dono da BMW, todo estiloso,  sai que é uma fera em cima do mineiro:

—Você não presta atenção não, seu matuto?!

 O mineirinho, todo paciente, responde:

—Carma moço, tudo se resorve....
Resolve nada seu... !!!!

—Carma...toma uma aqui da minha fazenda...é da boa que o sinhô vai si acarmá...

—Quero tomar nada não seu velho maluco!

—Carma moço! Num vai diantá nadica de nada essa brabeza não! Toma cá cumigo um gole prá acarmá!

Depois de continuar insistindo, com muito custo o cara, até para se livrar do mineirinho, acabou tomando uma. E ele gostou!

O cara toma mais uma.

—Acarmô?

—Acalmei nada!!!

—Intão toma mais ôtra uai!

E assim foi, depois de uma meia dúzia o mineiro voltou a perguntar:

—Agora já Acarmô?

—Sim, agora sim!Essa bebida acalma mesmo!

— Intão agora nóis vamu sentá aqui i chamá a pulícia pra fazê o tar di bafômitu i vê quem tá errado!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Desejo

Outros Autores

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada. 

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.


E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Victor Hugo

terça-feira, 14 de julho de 2015

Palavras Desagradáveis

Meus Rabiscos




A imagem de hoje é forte! É como um eco do provérbio chinês: “há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”.

Comentários “desagradáveis” também se vestem de subjetividade, ficando  à “mercê” de nossa capacidade de absorção, ou ainda melhor, compreensão.

As distorções são normais, triviais até! Difícil é lidar com elas!

A Psicoterapeuta e Filósofa , Adriana Tanese Nogueira, do blog Psicologia Dialética, discute a questão dos “Maus, antipáticos e desagradáveis”, numa abordagem bem mais abrangente e sobre um outro viés, mas ainda assim, tomo emprestado dois “pedaços” de seus argumentos”.

“Ser acusados, na cara ou pelas costas, de sermos ‘maus, antipáticos e desagradáveis’ é algo que fere a autoestima de qualquer um, e tem o efeito de baixar nossa imunidade psicológica, tornando-nos alvos passivos de qualquer crítica, mesmo quando infundada. Essa experiência de rejeição explícita à nossa pessoa é como uma ferida aberta que facilmente se infecciona, debilitando-nos para reagir pronta e saudavelmente perante os acontecimentos da vida”.
“Quando as críticas externas são construtivas mas dolorosas, a  rebelião interior frequentemente representa a tenacidade do ego encardido que não dá o braço a torcer. Mas se a crítica externa for baseada em estereótipos e estiver voltada para a criação e manutenção de um monopólio que nos exclui, a voz interna é o grito sagrado de justiça e liberdade. Se o recalcarmos, transformamos a crítica em xeque-mate e permitimos estupidamente nossa derrota”.

Eu, particularmente, gosto do contraponto. Gosto de saber as outras versões e visões. Gosto da dialogicidade das diferenças. Então, reflexiva e empaticamente, proponho-me ao exercício do aprender a transigência. Dialogar com os limites aflorados.

Palavras ferem, é bem verdade! Machucam e dilaceram! Entretanto, em grande parte, talvez na maior parte das vezes, é porque encontraram no receptor algumas portas carcomidas pela fuligem, emperradas na autoestima e empobrecidas na madura consciência de si. Aí elas entram arrombando, fazendo um barulho ensurdecedor, sangrando fragilidades e cutucando, tantas vezes, a arrogância do revide frenético.

Então penso como  Eleanor Roosevelt quando diz que "ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento", pois é isso que palavras desagradáveis podem provocar quando alguns “senões” não permanecem de plantão.

Por vezes nosso senso crítico se perde no desmensurado volume de informações e contrainformações que se impõem ao nosso cotidiano. Acometidos de tal ilegitimidade, as palavras não guardam o cuidado necessário e não mantém intactos os valores humanos, antes conservados. É nossa humana propensão ao equívoco. Quem nunca precipitou palavras?!

Não há receitas nem dogmas. Entretanto, cabe sim o exercício de maturação de si mesmo, numa prática revisionista de posturas e compreensões. Por exemplo, é preciso aprender a eliminar os preconceitos morais, éticos e sociais, sem o que, não haverá a compreensão plena do sentido de liberdade. É preciso respeito ao ponto de vista do outro. E é preciso, dentre tantas e tantas atitudes saudáveis às relações interpessoais, valorizar sempre os aspectos positivos da natureza individual, sem com isso ameaçar a intimidade dos outros ou paternalistamente encobrir os defeitos.

E, para concluir, dizem que há sempre três lados numa discussão: o seu, o meu e o lado de quem está certo. Aqui ainda cabem incontáveis argumentos... Um dos propósitos da imagem é mesmo esse inconcluso despertamento...

É a vez do seu lado se pronunciar... Fique à vontade!


Imagem: desconheço os direitos autorais. 
Ela foi escaneada de um quadro encontrado "num armário de escola", sem maiores informações.
Se alguém souber a origem, por favor, me comunique! 
Gostaria muito de dar créditos ao autor ou autora, pela relevância e significado da obra.
Publicado originalmente em 30 de outubro de 2010

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Atalhos em nossas vidas

Metáfora
Atalho


Dois jovens recém-casados, eram muito pobres e viviam de favor num sítio no interior. Um dia o marido fez a seguinte proposta a esposa:

— Querida, eu vou sair de casa, vou viajar para bem longe, arrumar um emprego, e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo eu vou ficar longe, só peço uma coisa: que você me espere, e enquanto estiver fora, seja fiel a mim, pois eu serei fiel a você.

Assim sendo, o jovem saiu, andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo em sua fazenda. O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, no que foi aceito.

Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceito.O pacto foi o seguinte:

 — Me deixe trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor me dispensa das minhas obrigações. Eu não quero receber meu salário. Peço que o senhor o coloque na poupança até o dia em que eu for embora. No dia em que eu sair o senhor me dá o dinheiro e eu sigo o meu caminho.

Tudo combinado. Aquele jovem trabalhou durante 20 anos, sem férias e sem descanso. Depois de 20 anos ele chegou para o patrão e disse:

—Patrão, eu quero o meu dinheiro, pois estou voltando para minha casa.

 O patrão então lhe respondeu.

—Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes, quero lhe fazer uma proposta, tudo bem ? Eu lhe dou todo o seu dinheiro e você vai embora ou lhe dou três conselhos e não lhe dou o dinheiro. Vá para o seu quarto, pense e depois me dê a resposta.

Ele pensou durante dois dias, procurou o patrão e disse-lhe:

— Quero os três conselhos.

O patrão novamente frisou:

— Se lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro.

E o empregado, por conta de tanta confiança, respondeu:

— Quero os conselhos.

O patrão então lhe falou:

— 1º Nunca tome atalhos em sua vida, caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a sua vida;

— 2º Nunca seja curioso para aquilo que é mal, pois a curiosidade para o mal pode ser fatal;

— 3º Nunca tome decisões em momentos de ódio ou de dor, pois você pode se arrepender e ser tarde demais.

Após dar os conselhos o patrão disse ao rapaz, que já não era tão jovem assim:

— Aqui você tem três pães, dois para você comer durante a viagem e o terceiro é para comer com sua esposa quando chegar em sua casa.

O homem então seguiu seu caminho de volta, depois de 20 anos longe de casa e da esposa que tanto amava. Após o 1º dia de viagem encontrou um andarilho que o cumprimentou e lhe perguntou:

— Para onde você vai ?

Ele respondeu:

—Vou para um lugar muito longe que fica a mais de 20 dias de caminhada por esta estrada.

O andarilho disse-lhe então:

—Rapaz, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho que é ‘dez’ e você chega em poucos dias.

O rapaz contente, começou a seguir pelo atalho, quando lembrou-se do 1º conselho, então voltou e seguiu o caminho normal. Dias depois soube que o atalho levava a uma emboscada. Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou uma pensão a beira da estrada, onde pode hospedar-se. Pagou a diária e após tomar um banho deitou-se para dormir. De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se, de um salto só e dirigiu-se a porta para ir até o local do grito. Quando estava abrindo a porta lembrou-se do 2º conselho.Voltou, deitou-se e dormiu. Ao amanhecer, após tomar o café, o dono da hospedagem lhe perguntou se ele não havia ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.

O hospedeiro disse:

— E você não ficou curioso ?

Ele disse que não.

O hospedeiro:

—Você é o primeiro hospede a sair vivo daqui, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hospede sai, mata-o e enterra-o no quintal.

O rapaz prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a sua casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada.....Já no entardecer, viu entre as árvores a fumaça de sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha entre os braços um homem, que a estava acariciando os cabelos. Quando viu aquela cena, seu coração se encheu de ódio e amargura e decidiu correr de encontro aos dois e matá-lo sem piedade.

Respirou fundo, apressou os passos, quando lembrou-se do 3º conselho. Então parou, refletiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão.

Ao amanhecer, já com a cabeça fria ele disse:

— Não vou matar minha esposa e nem seu amante. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes quero dizer a minha esposa que eu sempre fui fiel a ela.

Dirigiu-se a porta da casa e bateu. Quando a esposa abre a porta e o reconhece, se atira ao seu pescoço e o abraça afetuosamente. Ele tenta afastá-la, mas não consegue. Então, com lágrimas nos olhos, lhe diz:

— Eu fui fiel a você e você me traiu.

Ela espantada responde:

—Como ? Eu nunca te traí, te espero durante esses 20 anos.

Ele então lhe perguntou:

— E aquele homem que você estava acariciando ontem ao entardecer ?

Ela lhe disse:

— Aquele homem é nosso filho. Quando você foi embora descobri que estava grávida. Hoje ele está com 20 anos de idade.

Então o marido entrou, conheceu, abraçou seu filho e contou toda a sua história, enquanto a esposa preparava o café. Sentaram-se para toma-lo e comer juntos o último pão. Após a oração de agradecimento, com lágrimas de emoção , ele parte o pão e ao abri-lo, encontra uma preciosa joia que equivalia muito mais que todo o seu dinheiro do pacto por seus vinte anos de dedicação.

Muitas vezes achamos que o atalho "queima etapas" e nos faz chegar mais rápido, o que nem sempre é verdade....Muitas vezes somos curiosos, queremos saber da coisas que nem ao menos nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará....Outras vezes agimos por impulso, na hora da raiva e fatalmente nos arrependemos depois....

Valem os conselhos...