segunda-feira, 30 de março de 2015

As Três Peneiras

Meus Rabiscos

Dona Flora foi transferida de seção na fábrica em que trabalhava. Para “fazer média” com o novo chefe, logo no primeiro dia, saiu-se com esta:
- Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito da Zefinha...
Nem chegou a  terminar a frase porque “seu” Lico aparteou:
- Espere um pouco dona Flora. O que vai me contar já passou pelas três peneiras?
- Peneiras? Que peneiras “seu”Lico?
- A primeira é a da VERDADE. Tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro?
- Não, como posso? O que sei foi o que me contaram, mas eu acho que...
- Então sua história já vazou na primeira peneira. Vamos à segunda que é a da BONDADE. O que vai me contar é alguma coisa que gostaria que os outros dissessem a seu respeito?
- Claro que não! Deus me livre!
- Então, essa história vazou na segunda peneira. Vamos ver se vaza na terceira que é a da NECESSIDADE. A  senhora acha mesmo necessário contar-me esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
- Não , chefe. Passando nessas peneiras vi que não sobrou nada mesmo do que eu ia contar.



Pessoas ocupam, todos os dias, os mesmos espaços, compartilham o mesmo ar, o mesmo tempo. E as diferenças atiçam os excessos e as incompreensões, tornando propensa a irritabilidade.

Como já disse em outros textos, aquilo que somos, a qualquer momento de nossas vidas, será determinado por nossos relacionamentos com aqueles que nos amam ou se recusam a nos amar, com aqueles a quem amamos e a quem nos recusamos a amar.

O certo é que o conflito existe e será saudável se soubermos trabalhá-lo com franqueza, serenidade e maturidade, para que nossas relações sejam de qualidade e assim "existam".

Enquanto atitude, é necessário propor-se a evidenciar valores e compartilhar alegrias, ao invés de "cozinhar azedumes".

Então, por hoje é isso: verdade, bondade e necessidade! Vale propagar!



Publicado originalmente em 28 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de março de 2015

A Pedra da Felicidade

Metáfora



Nos tempos das fadas e bruxas, um moço achou em seu caminho uma pedra que emitia um brilho diferente de todas as que ele já conhecera.

Impressionado, decidiu levá-la para casa. Era uma pedra do tamanho de um limão e pertencia a uma fada, que a perdera por aqueles caminhos, em seu passeio matinal.

Era a Pedra da Felicidade. Possuía o poder de transformar desejos em realidade.

A fada, ao se dar conta de que havia perdido a pedra em algum lugar, consultou sua fonte de adivinhação e viu o que havia ocorrido. Avaliou o poder mágico da pedra e, como a pessoa que a havia encontrado era um jovem de família pobre e sofredora, concluiu que a pedra poderia ficar em seu poder, despreocupando-se quanto à sua recuperação. Decidiu ajudá-lo...

Apareceu ao moço em sonho, e disse-lhe que a pedra tinha poderes para atender a três pedidos: um bem material, uma alegria e uma caridade. Mas que esses benefícios somente poderiam ser utilizados em favor de outras pessoas.  Para atingir o intento, cabia-lhe pensar no pedido e apertar a pedra entre  as mãos.

O moço acordou desapontado. Não gostou de saber que os  poderes da pedra somente poderiam ser revertidos em proveito dos outros. Dos outros, apenas... Queria que fossem para ele.

Tentou pedir alguma coisa para si, apertando a pedra entre as mãos, sem êxito algum... Assim, resolveu guardá-la, sem muito interesse em seu uso.

Os anos se passaram e este moço tornou-se bem velhinho. Certo dia, rememorando seu passado, concluiu que havia  levado uma vida infeliz, com muitas dificuldades, privações e dissabores. Tivera poucos amigos, porém, reconhecia ter sido muito egoísta. Jamais quisera o bem para os outros. Antes, desejava que todos sofressem tanto quanto ele.

Reviu a pedra que guardara consigo durante quase toda sua existência; lembrou-se do sonho e dos prováveis poderes da pedra. Decidiu usá-la, mesmo sendo em proveito dos outros. Assim, realizou o desejo de uma jovem, disponibilizando-lhe um bem material. Proporcionou uma grande alegria a uma mãe revelando o paradeiro de uma filha há anos desaparecida e, por último, diante de um doente, condoendo-se de suas feridas, ofertou-lhe a cura.

Ao realizar o terceiro benefício, aconteceu o inesperado: a pedra transformou-se numa nuvem de fumaça e, em meio a esta nuvem, a fada, vista no sonho que tivera logo ao achar a pedra, surgiu, dizendo:

— Usaste a Pedra da Felicidade. O que me pedires, para ti, eu farei. Antes, devias fazer o bem aos outros, para mereceres o atendimento de teu desejo. Por que demoraste tanto tempo para usá-la?

O homem ficou muito triste ao entender o que se passara. Tivera em suas mãos, desde sua juventude, a oportunidade de construir uma vida plena de felicidade, mas fechado em seu desamor, jamais pensara que fazendo o bem aos outros colheria o bem para si mesmo. Lamentando o seu passado de dor e seu erro em desprezar os outros, pediu comovido e arrependido:

— Dá-me, tão somente, a felicidade de esquecer o meu passado egoísta.

domingo, 22 de março de 2015

Jeitinho de dizer...




Humor
Um homem de 85 anos estava fazendo seu check-up anual.O médico perguntou como ele estava se sentindo e, o bom velhinho, sem pestanejar, foi logo respondendo e ampliando a informação: 

— Nunca me senti tão bem! Minha nova esposa tem 19 anos e está grávida, esperando um filho meu. 

E o velhinho não parava. Continuava a conversa e perguntou ao médico:

— Qual a sua opinião a respeito? 

O médico refletiu por um momento e disse, de forma muito educada: 

— Deixe-me contar-lhe uma estória. Eu conheço um cara que era um caçador fanático, nunca perdeu uma estação de caça. Mas, um dia, por engano, colocou seu guarda-chuva na mochila em vez da arma. Quando estava na floresta, um urso repentinamente apareceu em sua frente. Ele sacou o guarda-chuva da mochila, apontou para o urso e ...BANG, o urso  caiu morto ... 

O velhinho não aguentou e disparou a rir:

 HA!HA!HA!HA! Isto é impossível!  Algum outro caçador deve ter atirado no urso. 

— Exatamente !!!!

quarta-feira, 18 de março de 2015

O Verdadeiro Educador


Outros Autores

O professor apenas instrui, o educador simplesmente educa.

O professor indica a direção, o educador acompanha na jornada.

O professor expõe o conteúdo exigido, o educador explora além do descoberto.

O professor se restringe ao plano de aula, o educador prioriza as necessidades do aluno.

O professor ignora o aluno enquanto indivíduo, o educador valoriza a contribuição pessoal do educando.

O professor corrige, o educador avalia.

O professor unicamente desempenha as obrigações, o educador ultrapassa o cumprimento do dever.

O professor se sente insignificante diante dos problemas educacionais, o educador considera-se responsável pelas soluções.

O professor inspira-se no modismo educacional, o educador transforma-se constantemente, na senda ilimitada do saber.

O professor limita-se em sua emoção, o educador amplia as fronteiras do seu próprio sentimento.

O professor torna-se uma pequena lembrança, o educador é um modelo a ser seguido.

Lúcia Alves

sábado, 14 de março de 2015

Flagrante no Motel

Meus Rabiscos



Cidade do interior tem essa coisa de todo mundo conhecer todo mundo. Às vezes é muito bom, facilita a solidariedade, noutras tantas, pode provocar alguns estragos irreparáveis.

Dia desses, um camarada resolveu dar uma "escapulida" à tarde. O comércio estava parado mesmo, sem qualquer movimento. Recomendou à balconista que se o procurassem, estaria na cidade vizinha, negociando algumas mercadorias para a loja. Correu até o pequeno banheiro, deu uma arranjada no cabelo, pincelou com o dedo algumas gotas de perfume, discou um número no celular e combinou a festa.

Separado, há alguns anos, vivia sua solteirice ao extremo. Nada de compromissos sérios. Valia experimentar sensações que imaginava estarem apagadas. Que nada! Renascera para a vida. Vivia, nas rodas de amigos, com largos sorrisos e muita prosa boa. Era um alívio não se obrigar a certas tramas matrimoniais.

Pouco tempo depois já estacionava o carro numa das vagas da suite 115, do motel "Êxtase". Curioso ao extremo, reparou, por entre a fresta da "portinhola" de lona, o veículo que estava estacionado na suite ao lado. Não era um carro comum, por isso a curiosidade foi aguçada. Abriu um pouco mais, para verificar o modelo. Haviam no máximo uns cinco daqueles na cidade e, como era fissurado em carros, já identificou, de pronto, os proprietários.

Enumerou, ali mesmo os donos, sempre se perguntando se seria ou não.
 —Será o Bartolomeu, o médico obstetra? O Carlúcio não pode ser, ele está na fábrica agora, passei por ele há pouco. O prefeito? Seria o prefeito? E se fosse o Magno, o amigo e pastor? Não! Ele era correto demais! Só podia ser então o Marcão! Esse é um mulherengo inveterado, casado, mas não dá ponto sem nó.

E quanto mais pensava, mais a curiosidade aumentava. Não aguentou. Abriu de vez a portinhola, entrou na vaga e constatou que era mesmo o carro do Marcão. Deu vontade de "sacanear" o amigo, bater na porta, aprontar uma confusão ali. Depois, repensando, achou melhor não exagerar. Observou que o vidro da porta do carro estava um pouco abaixado. Imaginou que, na pressa, no afã do prazer, Marcão se descuidara. Resolveu então que iria aprontar uma prá ele. Enfiou a mão pelo vidro, abriu cuidadosamente a porta e arrancou o dvd player do veículo, não todo, mas só o dispositivo de segurança. E era justamente o "equipamento importado", como gostava de gabar-se o amigo.

Feito isso, foi também para o seu cantinho do prazer. E já mal esperava o momento em que aprontaria a gozação com o Marcão.

Passados uns dois dias, numa tarde de domingo, quando a turma se reunia no boteco para a cervejinha, viu que Marcão estava na roda e todo prosa. Parou o carro, pegou o dispositivo do dvd player, colocou no bolso da blusa e se aprontou para a gozação.

O papo animado, como sempre numa roda de amigos, só falavam sobre mulheres. Os imaginários segredos quebravam-se todos naquela mesa. Cada um queria contar mais vantagem que o outro. E o Marcão estava mesmo todo prosa!
— Mulher gosta mesmo é de carinho! E lá em casa é assim, dou muito carinho à "patroa", que é prá nunca reclamar qualquer falta! Do jeito que a coisa anda, meus camaradas, quem gosta de ser Ricardão, não pode dar chance de ser surpreendido pelo cara... 

E caiam em risadas desmedidas. Era sempre hilário ridicularizar os coitados dos homens, daquela cidadezinha, que nem sabiam da existência de um Ricardão em casa.

E, nesse embalo, nessa conversa de Ricardão, foi ali que resolveu aprontar com o Marcão. Tirou um dvd do bolso e, como o carro do Marcão estava bem na porta do boteco, foi logo dizendo:
— Aí Marcão! Comprei esse DVD aqui, muito bem recomendado. Dizem que o som é magnífico. São os sucessos de Vitor e Leo, gravados ao vivo! Que tal a gente ligar no seu carro, para animar a turma aqui?!

O Marcão, meio sem graça, retrucou:
— Pessoal, eu lamento. Não vai ter jeito não! É que, na sexta-feira passada minha esposa saiu no carro prá fazer umas compras  e, segundo ela, quando retornou ao estacionamento, haviam roubado o dvd player do carro. Aquele equipamento é tecnologia pura e de primeiro mundo, mas ela se esqueceu de retirar o dispositivo de segurança. E sem ele fica imprestável. E o pior é que ninguém viu nada! Quem pegou vai faturar grana alta. Eu fiquei no maior prejuízo.

O amigo, sem saber se dava uma boa gargalhada ou se chorava a dor do Marcão, engoliu a seco as palavras. Aquele super-homem virou pateta! Sexta-feira, naquela hora, não era o Marcão, mas a esposa dele quem estava naquela suite...

Sem saber o que fazer com o "bendito" dispositivo importado, permaneceu calado e pensativo: "é meu amigo, o seu prejuízo é muito maior do que você imagina e vai crescer ainda mais..."
Publicado originalmente em 07 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de março de 2015

Amor a Deus

Metáfora
Discípulo



Certo discípulo, ao caminhar com seu mestre pela areia da praia, ficou encantado ao perceber o quanto este era querido. Todos os transeuntes manifestavam a mais explícita alegria pela passagem do mestre.



Curioso, perguntou ao mestre:



— Pôr que você é assim tão querido mestre?



O mestre respondeu:



 — É porque amo a Deus.



Não satisfeito, o discípulo insistiu:



—  Mas mestre, é só isso?        



O mestre, mais uma vez, com paciência lhe diz a mesma resposta.



Os dias se passaram e o discípulo continuava a insistir na mesma pergunta e sempre obtendo a mesma resposta:



Certo dia, após fazer a mesma pergunta, o mestre o convida para tomar banho no rio. O discípulo, meio ressabiado, hesita e pensa:  "Tomar banho no rio? Que estranho". Contudo, ante o chamado do mestre, por fim aceita e lá foram eles rumo ao límpido rio do lugarejo



Chegando ao rio, puseram-se a mergulhar. De repente, o mestre agarra o discípulo pelo pescoço e afunda-o na água, segurando-o firmemente. O discípulo, assustado, tentava se desvencilhar do mestre e não conseguia. O mestre o segurou lá por um bom tempo.



Quando finalmente foi solto, o mestre lhe disse:



—  Você sempre me pergunta porque todos me amam e me querem bem e você nunca aceitou a minha resposta. Pois bem, esta é a resposta.



O discípulo sem nada entender, retruca:



—  Mas mestre, eu quase me afoguei. O que tem isso a ver?



O mestre, paciente, lhe  responde:



—  Quando você estava embaixo da água, no que pensava? O mais você  queria?



O discípulo diz:



—  Queria respirar. Queria viver.



—  Pois bem, o dia em que você for capaz de amar a Deus tanto quanto desejava respirar, tanto quanto a vida que tem, então será este o amor de que tanto falo.