segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Falta de "desconfiômetro"



Humor

O Memorando Interno daquela empresa foi "pregado" em todas as repartições. E dizia assim:

"Recomendamos a todas as mulheres da empresa que ao solicitar xerox através de bilhetes, o façam com propriedade e com frases completas. A grande maioria dos bilhetes recebidos têm causado alguns problemas aos nossos colegas de trabalho, colocando em risco, inclusive, a paz nos seus lares, quando por acaso esquecem os bilhetes nos bolsos de suas roupas. A título de exemplo, transcrevemos algumas dessas solicitações de cópias":

1) Márcio, seja bonzinho... faça igual a última vez... please!

2) Joãozinho... quero quatro rapidinhas!

3) Zeca, hoje eu tenho que ser a primeira, porque estou mais necessitada...

4) Toninho, tira o mais rápido possível, porque o gerente também vai querer!!

5) Paulo, quero dos dois lados e presta atenção, atrás tem que caber tudo, viu?

6) Pedrinho, por favor... coloca na frente pra mim... vai??

7) Gil, presta atenção, estou muito angustiada... estou atrasada!

8) Robson, por favor, devagar, com carinho, porque quero bem feito.

9) Edu, cuidado! É comprido e largo... posicione direito para que não fique nada de fora, hein?

10) Alex, será que dá pra entrar no meio sem que ninguém perceba e tirar uma rapidinha?


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Se eu fosse mulher por um dia...

Meus Rabiscos

Cupid's Arrow, de José de Almeida & Maria Flores


Se eu fosse mulher, por um dia, queria desconhecer o cansaço e a irritabilidade da rotina, nos afazeres de casa. Não conseguiria ser essa mulher multifunções, "multitudo". Essa mulher "prendada" não sobreviveria!

Queria navegar em descobertas esfuziantes e a primeira curiosidade seria sobre os "mistérios" que povoam o banheiro feminino. Saber porque se vai ao banheiro feminino em duplas ou tríades, o que acontece lá dentro e porque o retorno é sempre acompanhado de largos sorrisos na face. Talvez sejam os encantos do "espelho espelho meu", em meio a bolsas recheadas de surpresas. Talvez...

Outra sensação, que deve ser deliciosa para se descobrir, seria o uso despudorado do cartão de crédito. Essa moeda plástica, que tantos desatinos provoca, tem seus segredos revelados em sapatos, roupas e outras tantas sacolas de grifes. Deve ser fantástica a emoção compulsiva das compras! Loja após loja, num infindável movimento de despir e vestir, até o "é esse"! Mais uma relíquia para o closet.

De outras tantas eu fugiria. Depilação então, nem pensar! Precisaria ser sofisticada, a laser ou qualquer outra tecnologia indolor. Nada de stress! Nada de baixas na autoestima!

De algumas não abriria mão: perfumes marcantes, hidratantes rejuvenescedores, peelings revigorantes, silhueta justa e contornos de violão, uma sereia que não exigisse dietas mirabolantes. Comer sem culpa, viver sem culpa! Por um só dia é até imaginável!

O melhor seria mesmo descobrir o "secreto" das falas, das conversas informais, dos segredos femininos discutidos sem receios, entre iguais. Saber tanto das dores quanto do êxtase! As aventuras inconfessas, as ousadias e transgressões segredadas.

Mas ser mulher, por um só dia, não seria apenas deliciar-me em futilidades da moda, medidas do corpo, pernas torneadas, bumbum enrijecido, pele delicada, cabelos tratados, cosméticos milagreiros e tantos outros "apetrechos" admoestadores do necessário embelezamento. Xô celulites, Xô estrias, Xô culotes. Por um só dia dá prá ficar sem tudo isso!

Ela também é espiritualizada, batalhadora, racional, ímpar. Eu seria então uma mulher superpoderosa, fazendo escolhas de felicidade, não as malogradas. Num só dia dá prá apostar nessas possibilidades.

Todas essas questões de ordem profissional, social e familiar, não seriam tão impossíveis de contornar, afinal, só um dia, passa rápido demais. A enxaqueca nem conseguiria se aproximar.

O grande problema seria controlar a libido. Ah, este seria um problema desastroso a se resolver. É que, enquanto mulher, ainda que só por um mísero dia, não me desvencilharia do meu lado "gay"!

"Arrgggg"! Homens? Nem pensar! Coisa mais esdrúxula, mais repugnante! Os trejeitos arrogantes, a empáfia de conquistadores, o machismo "imbecilóide", os hábitos constrangedores. Não! Isso já seria sacrificante, ultrajante até! Melhor revigorar o meu lado "gay", enquanto mulher!

O lado masculino, na mulher por um só dia, seria o imperativo a não escapulir dos traços. E ele é tão forte, tão encantado pela mulher, que mesmo em sua pele, seria impossível não se perder na beleza do olhar, no desenho dos lábios, no contorno da face, no convite dos olhos, na sedução do andar e no desejo que faz exalar!

Se eu fosse mulher, por um só dia, haveria de fazer sobreviver e sobrepor a todos os outros, a todo custo, o meu lado "gay"! Seria impossível, insípido e intragável imaginar diferente! 




Publicado originalmente em 28 de junho de 2010

domingo, 21 de dezembro de 2014

A Tigela de Madeira

Metáfora



Um senhor de idade foi morar com seu filho, nora e o netinho de quatro anos de idade. As mãos do velho eram trêmulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes.

A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão falha do avô o atrapalhavam na hora de comer. Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão. Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha da mesa.

O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.

— Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai. Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão.

Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições à mesa, com satisfação. Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira. Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair ao chão.

O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio. Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira. Ele perguntou delicadamente à criança:

— O que você está fazendo?

O menino respondeu docemente:

— Oh, estou fazendo uma tigela para você e mamãe comerem, para quando eu crescer.

 O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho. Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos. Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito.
 
Naquela noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família. Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as refeições com a família. E por alguma razão, o marido e a esposa não se importavam mais quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Beijo em pé



Beijo em pé

Outros Autores

Uma vez, almocei com duas amigas mineiras, ambas casadas há bastante tempo, veteranas em bodas de prata, e ainda bem felizes com seus respectivos. Falávamos das dificuldades e das alegrias dos relacionamentos longos. Até que uma delas fez uma observação curiosa. Disse ela que não tinha do que reclamar, porém sentia muita falta de beijo em pé.

Como assim, beijo em pé?


Depois de um tempo de convívio, explicou ela, o casal não troca mais um beijo apaixonado na cozinha, no corredor do apartamento, no meio de uma festa. É só bitoquinha quando chega em casa ou quando sai, mas beijo mesmo, “aquele”, acontece apenas quando deitados, ao dar início às preliminares. Beijo avulso, de repente, sem promessa de sexo, ou seja, um beijaço em pé, esquece.

E rimos, claro, porque quem não se diverte perdeu a viagem.


Faz tempo que aconteceu essa conversa, mas até hoje lembro da Lucia (autora da tese) quando vejo um casal se beijando na pista de um show, no saguão de um aeroporto ou na beira da praia. Penso: olha ali o famoso beijo em pé da Lucia. Não devem ser casados. Se forem, chegaram ontem da lua de mel.


Há quem considere o beijo – não o selinho, o beijo! – uma manifestação muito íntima e imprópria para lugares públicos. Depende, depende. Não há regras rígidas sobre o assunto, tudo é uma questão de adequação. Saindo de um restaurante, abraçados, caminhando na rua em direção ao carro, você abre a porta para sua esposa (sim, sua esposa há uns bons 20 anos) e taca-lhe um beijo antes que ela se acomode no assento. Por que não?


Porque ela vai querer coisa e você está cansado. Ai, não me diga que estou lendo seus pensamentos.


O beijo entre namorados, a qualquer momento do dia ou da noite, enquanto um lava a louça e o outro seca, por exemplo, é um ato de desejo instantâneo, uma afirmação do amor sem hora marcada. No entanto, o tempo passa, o casal se acomoda e o hábito cai no ridículo: imagina ficar se beijando assim, no mais, em plena segunda-feira, com tanto pepino pra resolver. Ninguém é mais criança.


Pode ser. Mas que gracinha de criança foi o goleiro Casillas ao interromper a entrevista da namorada e tacar-lhe um beijo sem aviso, um beijo emocionado, um beijo à vista do mundo, um beijo em pé. Naquele instante, suspiraram todas as garotas do planeta, e as nem tão garotas assim. E os homens se sentiram bem representados pela virilidade do campeão. Pois então: que repitam o gesto em casa, e não venham argumentar que não somos nenhuma Sara Carbonero. Isso não é desculpa.


 MARTHA MEDEIROS

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Mania de Pressa

Relógio Tarefeiro - fonte da imagem: Revista Espaço Aberto
 
Meus Rabiscos



A gente tem mania de pressa... Somos movidos a urgências. E a gente corre, quando devia acalmar os passos.

Talvez, daqui a algum tempo, a memória venha cobrar contas difíceis. Exigir reparo a tantas transgressões idas, sob a égide da pressa.

Nossa ordem de prioridades raramente contempla a efetividade da afetividade. Somos premidos por resultados. Respostas ágeis ao labor dos dias mais nublados.

Apressa-se o olhar. Ele já não carrega tanta ternura e compaixão. Os corpos em movimentos laterais e diante dos passos (e até mesmo aqueles prostrados nas calçadas), são apenas pontos demarcados no espaço para desvio de rota. São objetos sobre os quais já não se presta tanta atenção. Há pressa de cruzar a rua. Chegar noutro lado.

Os seres, "inanimados", que circundam minhas adjacências também emprestam a mesma redundante pressa no olhar. Engraçado isso! Estranhos tão próximos, quase sempre numa mesma rua, numa mesma esquina... mas ainda estranhos. São mais estranhos que a vitrine da loja. Nessa os olhos costumam repousar, ainda que a avidez exija olhar tudo em tempo recorde.

Se os passos são rápidos e largos, alguns encontros são também sufocados, quando não, fugazes. Há pressa no abraço. Por vezes ele é trocado por um rápido aperto de mãos, isso quando, por intransigência do outro, já não é mais possível oferecer apenas um sorriso morno, com pequenos movimentos alternados das sobrancelhas. Uma melancólica tentativa de justificar a pressa.

Por conta da pressa, desaprendemos a arte de escutar os sons relâmpagos do cotidiano. Minha voz precisa eclodir, antes de qualquer outro. A intolerância exige ritmo acelerado. A paciência se esvai. A pressa não permite tais banalidades. Tais deleites  são refugados na contraordem do ritmo frenético.

Desaprendemos a procrastinar...É isso mesmo! Talvez se assim o fizéssemos, poderíamos reter o tempo... acalmar os passos... abafar o tic-tac do relógio tarefeiro e, quem sabe, olhar com a alma a simplicidade das "coisas" esquecidas.

É na calmaria, longe das turbulências incontidas, que o horizonte faz descortinar outras possibilidades. É como diz o poeta:
"Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei demais,
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou
Nada sei, conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir"







Publicado originalmente em 21 de maio de 2010

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Raposa e o Lenhador

Metáfora
Confiar



Existiu um Lenhador que acordava às seis da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, e só parava tarde da noite.

Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança.

Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando de seu filho. Toda à noite ao retornar do trabalho, a raposa ficava feliz com sua chegada.

Os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um animal selvagem; e portando, não era confiável. Quando ela sentisse fome comeria a criança. O lenhador, sempre retrucando com os vizinhos, falava que isso era uma grande bobagem. A raposa era sua amiga e jamais faria isso.

Os vizinhos insistiam:

— Lenhador abra os olhos. A raposa vai comer seu filho.

— Quando sentir fome comerá seu filho!

Um dia o lenhador muito exausto do trabalho e muito cansado desses comentários,  ao chegar em casa viu a raposa sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensanguentada.

O lenhador suou frio e sem pensar duas vezes acertou o machado na cabeça da raposa.  Ao entrar no quarto, desesperado, encontrou seu filho no berço dormindo tranquilamente e ao lado do berço uma cobra morta.

O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.