sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Conselheiro e o Remador

Metáfora

 
Remador


Era uma vez dois amigos que foram criados juntos. Com o passar do tempo foram se distanciando, como acontece com todos os amigos ao saírem para a vida.

O primeiro conseguiu descobrir o prazer em aprender. Assim, investia boa parte do seu tempo nessa atividade. Nos estudos e em tudo que fazia se determinava a aprender. Fixava-se em seu propósito, fazendo primeiro o que era preciso e depois o que queria. 

O segundo resolveu que não era preciso dedicar-se com tanto cuidado. Passava na escola, mas estudava pouco. Obedecia sempre à sua voz interior, fazendo primeiro o que queria e, depois, no tempo que lhe sobrava, o que realmente era preciso.

Certo dia o reinado abriu concurso para prestadores de serviços ao rei. Os dois amigos passaram. A sorte maior apareceu para o primeiro. Foi contratado como conselheiro do rei. Já o segundo conseguiu serviço como remador no navio da realeza. 

Um dia o rei e seus conselheiros embarcaram para uma viagem no mar. Falavam de negócios enquanto aproveitavam a brisa que soprava do mar.    Enquanto isto, mais próximo da popa, os remadores suavam para fazer o navio seguir adiante. O remador, vendo seu amigo de infância bem à vontade em companhia do rei, ficou abalado, e, quanto mais pensava, mais furioso ficava. Ao anoitecer, já cansado de tanto remar, não se conteve e começou a resmungar para outro amigo remador: 

— Olhe aqueles inúteis. Intitulam-se conselheiros estratégicos, mas ficam à toa, jogando conversa fora. Por que é que temos que suar tanto para levar o navio deles adiante? Isto não é justo! Afinal, não somos filhos de Deus? 

Ao ancorarem o navio para pernoitar, o remador foi acordado no meio da noite por uma mão que lhe sacudia. Era o rei em pessoa, e lhe pediu, falando baixo: 

— Há um barulho esquisito vindo daquela direção — disse, apontando para a terra. — Não consigo dormir, imaginando o que seja. Por favor, vá e descubra o que é.

O remador pulou do navio e subiu para o alto de um morro. Voltou pouco depois com a informação.

— Não é nada, Vossa Majestade. São alguns lenhadores cortando árvores, por isso há tanto barulho na floresta. 

— Remador, quanto lenhadores são? 

O remador não tinha se dado ao trabalho de olhar com mais cuidado. Pulou do navio. Nadou até a praia. Correu morro acima. Voltou. 

— Vinte e um, Vossa Majestade. 

— Remador, que tipo de árvore é? 

Ele esqueceu de reparar. Lá voltou e retornou, dizendo: 

— Pinheiros, Vossa Majestade. 

— Remador, por que estão cortando as árvores? 

Lá foi ele de novo... 

— Para vender, Vossa Majestade. 

— Remador, quem é o dono das árvores? 

De novo ele teve que voltar. 

— Disseram que é um homem muito rico, Vossa Majestade. 

— Remador, obrigado. Agora venha comigo, por favor.

Os dois, o rei e o remador, foram até a proa do navio e o rei acordou o amigo de infância do remador. 

— Conselheiro, há um barulho esquisito vindo daquela direção — disse, apontando para a terra. — Não consigo dormir, imaginando o que seja. Por favor, vá e descubra o que é. 

O Conselheiro desapareceu rumo à terra e voltou pouco depois. 

— É uma equipe de lenhadores, Vossa Majestade.

— Conselheiro, quantos são? 

— Vinte e um, Majestade. 

— Conselheiro, que tipo de árvore é?

— São pinheiros, Majestade. Excelentes para construir casas.

— Conselheiro, por que estão cortando as árvores? 

— Para negociar, Majestade. O reflorestamento de pinheiros é do prefeito do vilarejo. Ele realiza o corte a cada dois anos. O corte é autorizado, me mostrou o ofício. Ele pede desculpas pelo barulho e convida Vossa Majestade para o café da manhã, que será preparado especialmente para recebê-lo. 

O rei olhou para o remador. 

— Remador, ouvi seus resmungos. Sim, todos nós somos filhos de Deus. Mas todos os filhos de Deus têm seu trabalho para executar. Precisei mandá-lo 4 vezes à terra para obter respostas. Meu conselheiro foi uma vez só. E é por isso que ele é meu conselheiro estratégico, e você fica com os remos do navio.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Confissões inesperadas

Humor

Tarde da noite, num calor danado, sem sono, marido e mulher já estavam deitados, quando...

MULHER : Se eu morresse você casava outra vez?
MARIDO: Claro que não!
MULHER : Não?! Não por quê?! Não gosta de estar casado ?
MARIDO: Claro que gosto!
MULHER: Então por que é que não casava de novo?
MARIDO: Está bem, casava...
MULHER: (com um olhar magoado) Casava?
MARIDO: Casava. Só porque foi bom com você...
MULHER : E dormiria com ela na nossa cama?
MARIDO: Onde é que você queria que nós dormíssemos?
MULHER: E substituiria as minhas fotografias por fotografias dela?
MARIDO : É natural que sim...
MULHER: E ela ia usar o meu carro?
MARIDO: Não. Ela não dirige...
MULHER: !!!! (silêncio)
MARIDO : (em pensamento) F.u.d.e.u !!!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Desabafo de Um Repetente

Outros Autores

Não, eu não vou bem na escola. Esse é o meu segundo ano na 7ª série e sou muito maior que os outros alunos. Entretanto, eles gostam de mim. Não falo muito em aula, mas, fora de sala, sei ensinar um mundo de coisas. Eles estão sempre me rodeando e isto compensa tudo que acontece na sala. 

Eu não  sei  porque os  professores não gostam de mim. Na verdade, eles nunca acreditam que a gente sabe alguma coisa, a não ser  que possam dizer  o nome do livro onde a gente aprendeu. Tenho vários livros lá em casa. Mas não costumo sentar e lê-los todos, como mandam a gente fazer na escola. Uso meus livros quando quero descobrir alguma coisa. Por exemplo, quando a mãe compra algo de segunda mão e eu procuro no “SEARS” ou  “WORDS” para dizer se ela foi  tapeada ou não. Sei usar o índice rapidamente e encontrar tudo que quero.
 
Mas  na escola a gente tem de aprender tudo que está no livro e eu não consigo guardar. Ano passado, fiquei na escola depois da aula, todo o dia, durante duas semanas, tentando aprender os nomes dos presidentes dos Estados Unidos da América. Claro que conhecia alguns como  WASHINGTON, JEFFERSON e LINCOLN . Mas  é preciso saber os trinta, todos juntos e em ordem e isso eu nunca sei. Também não ligo muito, pois os meninos que aprendem os presidentes têm que aprender os vice depois. Estou na 7ª série pela segunda vez, mas a professora agora não está muito interessada nos presidentes. Ela quer é que a gente aprenda os nomes de todos os grandes inventores americanos.


Acho que nunca conseguirei decorar nomes em história. Esse ano, comecei a aprender um pouco sobre caminhões porque meu tio tem três e disse que eu posso dirigir um quando eu fizer 16 anos. Já sei bastante sobre cavalo a vapor, marchas de vinte, e, seis marcas diferentes de caminhão, alguns  Diesel. É gozado como os motores Diesel funcionam. Comecei a falar sobre eles com a professora de Ciências na quarta-feira passada, quando a bomba que a gente estava usando para obter o vácuo esquentou. Mas a professora disse que não via relação entre motor diesel e a nossa experiência sobre a pressão do ar. Fiquei inquieto. Mas  os colegas pareceram gostar. Levei quatro deles à garagem do meu tio e vimos o mecânico  desmontar um caminhão Diesel  —rapaz , e como ele entende disso!


Eu também não sou forte em Geografia. Nesse ano, eles falam geografia econômica. Durante toda a semana estudamos o que o Chile importa e exporta, mas não sei bulhufas. Talvez porque falhei de aula, pois meu tio me levou em uma viagem mais ou menos duzentas milhas de distância. Trouxemos duas toneladas de mercadoria de Chicago. Meu tio tinha me dito, quando ainda estávamos indo ,  para eu indicar as estradas e as distâncias em milhas. Ele só dirigia o caminhão e virava à direita , à  esquerda,  quando  eu  mandava.  Como  foi  bom...


Paramos sete vezes e dirigimos mais de quinhentas milhas, ida e volta. Estou tentando calcular o óleo e o desgaste do caminhão para ver quanto ganhamos.


Eu costumo fazer contas e escrever as cartas para todos os fazendeiros sobre os porcos e os bois trazidos. Houve apenas três erros em dezessete cartas e , diz minha tia:


—Só problemas de vírgulas. Se eu pudesse escrever composições bem assim...       
                                                     

Outro dia, o assunto era: “O que uma rosa leva da primavera...” e não deu.


Também não deu para Matemática. Parece que não consigo me concentrar nos problemas. Um deles era assim: Se um poste telefônico , com 57 pés de comprimento, cai atravessado em uma estrada de modo que 17 pés sobre de um lado e 14 de outro, qual a largura da estrada?


Acho uma bobagem calcular largura de estrada. Nem tentei responder, pois o problema também não dizia se o poste tinha caído reto ou torto.


Não sou  bom em Artes Plásticas, digo, Práticas. Todos nós fizemos um prendedor de vassouras, um segurador de livros. Os meus foram péssimos. Também não me interessei. A mãe nem usa vassoura desde que ganhou o aspirador de pó e todos os livros estão dentro de uma estante com porta de vidro. Quis fazer uma fechadura para o “trailler” do meu tio. Mas a professora não deixou, pois teria de trabalhar com madeira e metal ao mesmo tempo e, precisava antes trabalhar só com madeira. Assim fiz esta parte de madeira na escola e o resto na garagem do meu tio. Ele disse que economizou mais ou menos 10 dólares com o presente.


Moral e Cívica também é fogo. Andei ficando depois da aula tentando aprender os artigos da Constituição. A professora disse que só poderíamos  ser bons cidadãos sabendo disso. E eu quero ser bom cidadão. Mas detestava ficar depois da aula porque um bando de meninos estava limpando um lote da esquina para fazer um “playgraund” para as crianças do “Lar Metodista”. Eu até fiz um conjunto de barra, usando velhos canos. Conseguimos dinheiro vendendo jornais e revistas velhas, para fazer uma cerca de arame em volta do lote.


O pai disse que eu posso sair da escola quando fizer 15 anos. Estou decidido para isso, porque há um mundo de coisas que eu quero aprender a fazer e já estou ficando velho.

FONTE: Corey, Stephan M. “The Peor Scholar’s Soliloquy,  Childhocd Education”— Traduzido e adaptado por Maria Lúcia Senra de Vilhena.

domingo, 17 de maio de 2015

Partidas e Chegadas

Meus Rabiscos

Agora é dizer sobre  partidas e chegadas... 

Opto então por pensar “partidas e chegadas” enquanto processos evolutivos do ser, enquanto instâncias de refazimento de si e de criação das novas metas, em constante processo "espiralado" de reconstrução.

Essa evolução, por todos experimentada, talvez com ponto de partida bem delineado, mas sem ponto final ou de chegada definido, por conta também das involuções sofridas, é a trajetória natural de cada ser humano.

A falta do ponto final nos remete à estrada sem fim, à amplidão do rumo, onde o horizonte é tingido, aos nossos olhos, por cores de nevoeiro, poeira, chuvas torrenciais, escuridão, reflexos de luzes, enfim, são metáforas dos desafios a ultrapassar, das curvas montanhosas a sobreporem declives e aclives acentuados, e tudo isso nas desconhecidas formas e condições de prosseguir os passos.

Evolui-se entre tantas chegadas e tantas partidas, por vezes concomitantes. Alguns param na chegada. Outros não querem mais a partida. Alguns se aquietam nos pontos de descanso da estrada e não se pode dizer que são menos felizes por isso. São escolhas. Optou-se por permanecer naquele lugar, independentemente das limitações impostas. É que nem todos tem a aptidão para explorar outros caminhos, a alma não é expedicionária e nela não mora a curiosidade, nem tampouco a ousadia. Ou nada disso. Apenas se escolheu ficar...

Outros são afoitos nas partidas. Não saboreiam a chegada. Não permitem que os olhos descansem, por segundos sequer, nas novas paragens. Não apreendem, portanto não aprendem. O pensamento intuitivo ignora o convite reflexivo. Etapas são puladas. Esses também não são menos felizes por isso! Só há pressa. O olhar, talvez, esteja lançado adiante. Outras são as escolhas. Também esses não são menos felizes por isso...

Outros ainda enamoram-se das chegadas, tecem laços emotivos para além do tempo permitido. Acomodam-se na intensificação do sabor experimentado. Lambuzam-se, em demasia. Adormecem nos braços convidativos da suposta felicidade que não reclama reforço, cuidados ou sonhos. O tempo, quem sabe, um pouco mais adiante, vai exigir desses algum desapego e releituras.  E também não são menos felizes por isso!

Há então os que titubeiam ante as escolhas de partir ou de chegar. Há medo de partir, pois não se quer abrir mão do que já tem. Há medo de chegar, pois o enfrentamento dos desafios vestidos de  “novo e desconhecido”  faz desestabilizar a autonomia.  Incertos dos passos e dos rumos, acolhem os ditames de outros viajantes, muitos desses oriundos de lugares inóspitos e inabitados por almas humanas. Incautos, sobrevivem à sombra de si mesmos, desconhecendo dores aguçadas e sorrisos engrandecidos, por isso respiram involução, num edema pulmonar prestes a subtrair-lhes a vida. Esses sim, provavelmente são menos felizes por isso!

Ser feliz então, entre partidas e chegadas ou entre chegadas e partidas, exige a capacidade de seguir adiante, com a humilde consciência do aprender a aprender e do aprender a ser; do refazer-se, do desconstruir e reconstruir-se, em permanente estado de alerta. É insistir nos passos, ir com as mãos vazias e límpidas, dando sacudidelas nos entulhos não recicláveis, revigorando-se e lançando fora o que já não serve mais. Seguir evoluindo, não desconhecer as involuções, mas jamais fugir das escolhas.

 
E, se preciso for, vale o “metamorfoseio” ambulante, já cantado por Raul: “... prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou...”
E você!?
Publicado originalmente em 16 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Use o seu Chocalho!

Metáfora




Uma terrível serpente cascavel andava atacando, sem nenhum aviso, com sua picada fatal, as pessoas que passavam pela estrada principal de uma aldeia.

Reunidos em comissão, os habitantes do lugar foram pedir a ajuda de um mestre para se defenderem da ferocidade do animal. 

O mestre foi até a serpente e conseguiu fazer com que ela o ouvisse. Falando durante longo tempo, o respeitável homem fez ver ao animal a violência dos seus atos que tantas mortes desnecessárias já haviam causado.

Seus argumentos a favor da paz foram tão firmes e profundos que tocaram o coração da serpente, fazendo com que uma nova luz brotasse na sua consciência.

Desde então, ela se transformou numa outra criatura, totalmente devotada à causa da convivência harmoniosa entre todos os seres.

Entretanto, logo, logo, os aldeões se esqueceram completamente da antiga ferocidade do animal e começaram a debochar do seu novo estilo de conduta, considerando-o não como prova de crescimento e evolução, mas de fraqueza. 

-“De que adianta ter presas, se a cobra é covarde demais para usa-las?", diziam às risadas, enquanto lhe atiravam pedras tentando acintosamente provoca-la.

Um dia, depois de passar algum tempo nessa vida de não violência, cheia de feridas no corpo e na alma com as pedradas das suas antigas vítimas em potencial, a serpente arrastou-se até a casa do mestre para queixar-se com ele da sua situação.

- Quando fui tocada pelas suas palavras, renunciei a toda forma de violência e desde então tenho vivido de modo pacífico e amistoso com todas as outras criaturas. Mas como abandonei a minha agressividade, deixei de ser temida, e assim todos me desprezam e batem e em mim, sabendo que eu não reagirei de maneira alguma. O que o senhor tem a me dizer a respeito disso?

- O que eu tenho a lhe dizer é bem simples, respondeu-lhe o mestre. Você ainda não aprendeu a não ser violenta pois, para não agredir os demais, acabou se violentando e se deixando violentar. Eu lhe mostrei que você deveria renunciar ao uso das suas presas e do seu veneno. Mas não lhe disse em nenhum momento que você devesse abrir mão do seu chocalho...  


Muitas vezes, em nome de estabelecer uma suposta paz
nas minhas relações, de não invadir o espaço do outro,
de ser amável e cortês com todos os demais,
eu acabo renunciando ao meu próprio espaço existencial,
tornando-me alvo imediato da agressividade alheia.

Então, de perseguidor, eu passo a vítima,
experimentando na própria pele
todos os sofrimentos que eu havia imposto aos outros.
 
Para não ser violento com os outros
- nem permitir que os outros sejam violentos comigo -
devo ter bem claro os limites
entre os meus direitos
e os meus deveres para com o próximo
entre o meu próprio território e o território do outro
entre agressividade e auto-preservação
entre obter o respeito ou o medo das outras pessoas.