domingo, 30 de agosto de 2015

Reciclar é preciso

Meus Rabiscos


Não é tarefa fácil revisar conceitos ou pressupostos já inculcados! Não é tarefa fácil abdicar de constructos já internalizados como verdades! Não é tarefa fácil rever posturas, atitudes e, principalmente, valores!

Ainda assim, é preciso ousar a reflexão que conduza à prática revisionista. É preciso ousar a descoberta da própria consciência de inacabamento, caso contrário, nenhum refazimento de si será alvo de novos passos. E não "reciclar-se" é adormecer na mesmice, com equivocado sabor de novidade.

O problema crucial é saber o momento, aliás, é saber em que proporções e onde mudar. Saber-se incompleto, pronto ao refazimento, é mergulhar nas entranhas tão difíceis de enxergar; é meter o dedo em cicatrizes ainda expostas, embora camufladas; é volver o olhar para os passos mais obscuros e, quem sabe, até mais indesejáveis que ainda perambulam soltos na confortável inconsciência do ser; é, eu acredito, o grande desafio de descobrir-se menor do que dá conta de enxergar e mais frágil que a força que imaginava possuir.

Deparar-se com o contraste mais cruel de si mesmo e escolher atirar ao lixo pedaços ainda respirando posicionamentos, não é tarefa simples ou banal. Ao contrário, é o enfrentamento que dilacera, mas faz amadurecer e vislumbrar outros propósitos.

Jogar fora o lixo que impregna as falas maltrapilhas, que entorpece as crenças e turva as  visões de mundo e de ser humano, é desafio heróico na reconstrução humanizadora de qualquer novo homem ou nova mulher! Não é nada fácil abrir mão das "coisas"! E tudo "coisificado" que já ocupava lugares vitais...

Então, ainda que seja árdua a decisão de esvaziar-se, como eu já pontuei, o mais difícil é enxergar o que precisa ser esvaziado. O mais difícil é saber-se em processo de inacabamento e refazimento, consciente, na exata medida, de quais gargalos e atrofiamentos reclamam reciclagem!

E estes são os convites da imagem desta semana: esvaziar-se e refazer-se!

Refazer conceitos, posturas, atitudes, propósitos... Refazer-se emocionalmente! Refazer-se espiritualmente! E alguns reencontros, em Deus, são esplêndidos! Precisam ser precipitados, ou seja, precisam ser iniciados. Tudo o mais será acrescentado no tempo certo!






Imagem: desconheço os direitos autorais. 
Ela foi scaneada de um quadro encontrado "num armário de escola", sem maiores informações.
Se alguém souber a origem, por favor, me comunique! 
Gostaria muito de dar créditos ao autor ou autora, pela relevância e significado da obra.
Publicado originalmente em 13 de novembro de 2010

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Acreditar e Agir

Metáfora
Barco



Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino. 


Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro. 


O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, observou que eram mesmo duas palavras. Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro agir


Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante. 


Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem. 


Então o barqueiro disse ao viajante: 


—Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir. Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com a mesma intensidade agir e acreditar

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Diagnóstico de uma morena



Uma jovem morena vai num consultório médico e reclama que todos os lugares do seu corpo doem quando ela toca.
— Impossível — diz o doutor. — Mostre-me como pode ser.
Então, ela encosta seu próprio dedo no seu ombro e grita agonizante. Depois ela encosta em sua perna e grita, encosta em seu cotovelo e grita e assim por diante.... Qualquer lugar que se tocava, ela gritava.
O doutor perguntou:
—Você não é morena natural, não é?
E ela responde toda calma e tristonha:
—Não. Na verdade eu sou loira. É que resolvi pintar meus cabelos!!!
O doutor coça a cabeça, balança e diz com ar sério:
— Foi o que eu pensei!! Seu dedo está quebrado!!!

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Espelho

Outros Autores

Dr. Papaderos, qual o significado da vida?

Seguiu- se a risada habitual e as pessoas se mexeram nas cadeiras, querendo ir embora.

Papaderos levantou a mão, silenciando a sala, e me olhou por um longo tempo, perguntando com os olhos se eu estava falando sério e vendo nos meus que eu estava.

Vou responder à sua pergunta.

Ele tirou a carteira do bolso da calça, pôs a mão dentro da divisória de couro e pegou um espelho redondo bem pequeno, mais ou menos do tamanho de uma moeda de vinte e cinco centavos.

Disse então o seguinte:

Quando eu era pequeno, durante a guerra, éramos muito pobres e vivíamos em um vilarejo distante. Certo dia, na estrada, encontrei os pedaços partidos de um espelho. Uma motocicleta alemã tinha se acidentado naquele lugar.

E ele continuava:

Tentei encontrar todos os pedaços e juntá-los, mas não era possível. Então só guardei o pedaço maior. Este aqui, que esfreguei em uma pedra, fazendo-o ficar redondo. Comecei a brincar com ele e fiquei fascinado ao descobrir que podia refletir a luz em lugares escuros, onde o sol nunca brilhava: em buracos profundos, fendas e armários. Aquilo virou um jogo para mim, levar luz aos lugares mais inacessíveis que conseguia encontrar.

Pausou a fala por alguns momentos, como se buscasse a lembrança dos fatos narrados.

Guardei o espelhinho e, à medida que ia crescendo, eu o tirava do bolso nos momentos em que não estava fazendo nada e continuava com o desafio do jogo. Quando virei homem, comecei a entender que aquilo não era só uma brincadeira de criança, mas uma metáfora para o que eu poderia fazer com a minha vida. Acabei percebendo que não sou a luz ou a fonte de luz. Porque a luz  a verdade, a compreensão, o conhecimento está ali e vai iluminar muitos lugares se eu a refletir.

Por fim, arrematou cutucando minha alma:

Eu sou apenas o fragmento de um espelho do qual não conheço a forma nem a finalidade. Mesmo assim, com o que tenho, posso refletir a luz nos lugares escuros deste mundo, sobretudo nos corações dos seres humanos, e posso mudar algumas coisas em algumas pessoas. Talvez outras pessoas me vejam fazendo isso e façam o mesmo. É para isso que eu vivo. É este o significado da minha vida.

Robert Fulghum
Histórias para Aquecer o Coração dos Adolescentes
Jack Canfield & Mark Victor Hansen & Kimberly Kirberger


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Mexericos

Meus Rabiscos





Mexericos: não passe adiante!
Quando esse “piche” de imundícies impregna as mãos é porque o resto já foi tomado pela maldade.
“Mexerico” é maldade alcançando o outro. É maldade infernizando a sobrevivência do outro. É inveja porcamente incrustada, revelando máscaras doentias de maldade.
É... e quem tem um bom coração, por vezes, é alcançado pela maldade. Talvez porque anda sempre desarmado. Talvez porque a magnanimidade lhe habite a alma.
Sabe a sensação de sufocamento? Pois é! “Mexerico” é isso! A vida clama ser respirada, inteira e pura, mas o maldoso mexerico bloqueia as vias respiratórias, faz faltar chão, doer o peito e sofrer horrorosas sensações de desfalecimentos por insuficiência de ar!
E eu não dou conta de entender como a maldade se espalha. Não dou conta de aceitar que um ser humano queira mal a outro, deseje o inferno ao outro. Não dou conta de acolher a idéia de que o “olho gordo” manche a vida do outro. Não dou conta de acatar que o “mau olhado” ofereça trevas a corações límpidos e generosos.
“Mexericos” diferem de “Comentários Desagradáveis”. Enquanto o primeiro é maldade real, é mal transferido para ser alojado no outro, cujas defesas não estão de prontidão, o segundo é preso às palavras intempestivas, nascidas das intempéries do cotidiano, machucam, mas não “passam a morar”. Se no segundo a dialética do refazer e reconstruir ainda é possível, no primeiro não!
“Mexerico” é a encarnação do mal, feito Medusa e seu olhar petrificante. Em tempos atuais, os bocejos constantes, reclamando respiração profunda, petrificam corações de bondade.
Preciso confessar minha repugnância à maldade que pode ser espalhada! É tão mais fácil vibrar com o sucesso do outro! É tão mais íntegro olhar com bondade a trajetória do outro! É tão mais correto o bem querer gratuito! É tão mais cristã a atitude de servir e perdoar!
O “mexerico” da inveja, do mal querer, enfim, de todos esses males, só faz revelar a podridão que reclama limpeza, o auto-holocausto a ser extirpado, a pequenez a ser vencida.
O “piche”, tão viscosamente pegajoso, gruda para não sair fácil! A alma adoecida pelo negrume faz adoecer o outro ser humano, impondo-lhe os malefícios da ausência de Deus!  
Tempo então de manter as mãos límpidas! Tempo de refletir propósitos de vida! Tempo de convidar Deus a agir e pertencer na fé! Tempo de entrega plena! Indescritivelmente plena!
Tempo de afetividade! Tempo de aprender!






Imagem: desconheço os direitos autorais. 
Ela foi escaneada de um quadro encontrado "num armário de escola", sem maiores informações.
Se alguém souber a origem, por favor, me comunique! 
Gostaria muito de dar créditos ao autor ou autora, pela relevância e significado da obra.



Publicado originalmente em 6 de novembro de 2010

sábado, 1 de agosto de 2015

Uma última viagem

Metáfora



Há vinte anos, eu ganhava a vida como motorista de táxi. Era uma vida de cowboy, própria para alguém que não deseja ter patrão. O que eu não percebi é que aquela vida era também um ministério.


Em face de eu dirigir no turno da noite, meu táxi tornou-se um repositório de reminiscências ambulantes, às vezes um confessionário. 


Os passageiros embarcavam e sentavam atrás, totalmente anônimas, e contavam episódios de suas vidas, suas alegrias e suas tristezas. 


Encontrei pessoas cujas vidas surpreenderam-me, enobreceram-me, fizeram-me rir e chorar. Mas nenhuma tocou-me mais do que a de uma velhinha que eu peguei tarde da noite - era Agosto. Eu havia recebido uma chamada de um pequeno prédio de tijolinhos, de quatro andares, em uma rua tranquila de um subúrbio da cidade. 

Eu imaginara que iria pegar pessoas num fim de festa, ou alguém que brigara com o amante, ou talvez um trabalhador indo para um turno da madrugada de alguma fábrica da parte industrial da cidade.


Quando eu cheguei às 02.30 da madrugada, o prédio estava escuro, com exceção de uma única lâmpada acesa numa janela do térreo. Nessas circunstâncias, muitos motoristas teriam buzinado umas duas ou três vezes, esperariam um minuto, então iriam embora. Mas eu tinha visto inúmeras pessoas pobres que dependiam de táxis, como o único meio de transporte a tal hora. A não ser que a situação fosse claramente perigosa, eu sempre ia até a porta.


"Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda", eu pensei. Assim fui até a porta e bati. "Um minuto", respondeu uma voz débil e idosa. Eu ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão. Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Uma octogenária pequenina apareceu. Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro que mais parecia uma caixa com véu, daqueles usados pelas senhoras idosas nos filmes da década de 40. Ao seu lado havia uma pequena valise de nylon. O apartamento parecia estar desabitado há muito tempo. Toda a mobília estava coberta por lençóis. Não havia relógios, roupas ou utensílios sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa com fotografias e vidros.


—O senhor poderia por a minha mala no carro? Ela pediu. 


Eu peguei a mala e caminhei vagarosamente para o meio-fio, ela ficou agradecendo minha ajuda. 


—Não é nada. eu apenas procuro tratar meus passageiros do jeito que gostaria que tratassem minha mãe.


—Oh!, você é um bom rapaz!


Quando embarcamos, ela deu-me o endereço e pediu:


—O senhor poderia ir pelo centro da cidade?


—Não é o trajeto mais curto. —Alertei-a prontamente.


—Eu não me importo. Não estou com pressa, pois meu destino é um asilo de velhos. 


Eu olhei pelo retrovisor. Os olhos da velhinha estavam marejados, brilhando.


—Eu não tenho mais família (continuou ela). O médico diz que tenho pouco tempo.


Eu, disfarçadamente, desliguei o taxímetro e perguntei:


—Qual o caminho que a senhora deseja que eu tome?


Nas duas horas seguintes nós dirigimos pela cidade. Ela mostrou-me o edifício que havia, em certa ocasião, trabalhado como ascensorista. Nós passamos pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados. Ela pediu-me que passasse em frente a um depósito de móveis, que havia sido um grande salão de dança que ela frequentara quando mocinha. De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina, ficava então com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada. Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, ela disse de repente: 


—Eu estou cansada. Vamos agora!


Viajamos, então, em silêncio, para o endereço que ela havia me dado. 

Chegamos a um prédio baixo, lúgubre, como uma pequena casa de repouso. 

A via de entrada passava sob um pórtico. Dois atendentes caminharam até o táxi, assim que ele parou. Eram muito amáveis e atentos e observavam todos os movimentos dela. Eles deviam estar esperando-a. Eu abri a mala do carro e levei a pequena valise para a porta. A senhora já estava sentada em uma cadeira de rodas. 


—Quanto lhe devo? —Ela perguntou, pegando a bolsa.


—Nada.


—Você tem que ganhar a vida, meu jovem.


—Há outros passageiros. —Respondi.


Quase sem pensar, eu curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente:


—Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria.


—Obrigado. 


Apertei sua mão e caminhei no lusco-fusco da alvorada. Atrás de mim uma porta foi fechada. Era o som do término de uma vida.


Naquele dia não peguei mais passageiros. Dirigi sem rumo, perdido nos meus pensamentos. Mal podia falar.


Se a velhinha tivesse pego um motorista mal-educado e raivoso, ou algum que estivesse ansioso para terminar seu turno? E se houvesse recusado a corrida, ou tivesse buzinado uma vez e ido embora? Ao relembrar, não creio que eu jamais tenha feito algo mais importante na minha vida. Nós estamos condicionados a pensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos. Todavia, os grandes momentos frequentemente nos pegam desprevenidos e ficam maravilhosamente guardados em recantos que os outros podem considerar sem importância. As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez se sentir...