Beijo em pé |
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Uma vez, almocei com duas amigas mineiras, ambas casadas há bastante tempo,
veteranas em bodas de prata, e ainda bem felizes com seus respectivos.
Falávamos das dificuldades e das alegrias dos relacionamentos longos. Até que
uma delas fez uma observação curiosa. Disse ela que não tinha do que reclamar,
porém sentia muita falta de beijo em pé.
Depois de um tempo de convívio, explicou ela, o casal não troca mais um
beijo apaixonado na cozinha, no corredor do apartamento, no meio de uma festa.
É só bitoquinha quando chega em casa ou quando sai, mas beijo mesmo, “aquele”,
acontece apenas quando deitados, ao dar início às preliminares. Beijo avulso,
de repente, sem promessa de sexo, ou seja, um beijaço em pé, esquece.
Faz tempo que aconteceu essa conversa, mas até hoje lembro da Lucia (autora
da tese) quando vejo um casal se beijando na pista de um show, no saguão de um
aeroporto ou na beira da praia. Penso: olha ali o famoso beijo em pé da Lucia. Não
devem ser casados. Se forem, chegaram ontem da lua de mel.
Há quem considere o beijo – não o selinho, o beijo! – uma manifestação muito
íntima e imprópria para lugares públicos. Depende, depende. Não há regras
rígidas sobre o assunto, tudo é uma questão de adequação. Saindo de um
restaurante, abraçados, caminhando na rua em direção ao carro, você abre a
porta para sua esposa (sim, sua esposa há uns bons 20 anos) e taca-lhe um beijo
antes que ela se acomode no assento. Por que não?
Porque ela vai querer coisa e você está cansado. Ai, não me diga que estou
lendo seus pensamentos.
O beijo entre namorados, a qualquer momento do dia ou da noite, enquanto um
lava a louça e o outro seca, por exemplo, é um ato de desejo instantâneo, uma
afirmação do amor sem hora marcada. No entanto, o tempo passa, o casal se
acomoda e o hábito cai no ridículo: imagina ficar se beijando assim, no mais,
em plena segunda-feira, com tanto pepino pra resolver. Ninguém é mais criança.
Pode ser. Mas que gracinha de criança foi o goleiro Casillas ao interromper a entrevista da namorada e
tacar-lhe um beijo sem aviso, um beijo emocionado, um beijo
à vista do mundo, um beijo em pé. Naquele instante, suspiraram todas as garotas
do planeta, e as nem tão garotas assim. E os homens se sentiram bem
representados pela virilidade do campeão. Pois então: que repitam o gesto em
casa, e não venham argumentar que não somos nenhuma Sara Carbonero. Isso não é
desculpa.
MARTHA MEDEIROS
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