terça-feira, 1 de março de 2011

O Caboclo, o Padre e o Estudante

"Seu Caboclo", de Antonio Argolo

 Outros Autores
Luís da Câmara Cascudo

Um estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo. Deram-lhe  numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito, pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios. Todos aceitaram e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:

- Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava:
- Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo.

Então, Vosmincês respondiam de longe, do céu:
- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não queremos queijo.

O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me enquanto vosmincês dormiam e comi o queijo...


CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil.
Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1986, p.213.

5 comentários:

  1. Adorei o conto.
    Gostei de ver...rsssrs...nunca subestimemos a esperteza dos aparentemente mais simples...
    Um abraço, meu querido amigo...
    Valéria

    ResponderExcluir
  2. Muito bom, muito bom!!!
    Bjsssssssss

    ResponderExcluir
  3. rsrsrsrsrs legal, adorei.
    Beijossssssssss

    ResponderExcluir
  4. Gilmar, eu que sou conhecedor das histórias caboclas, ouvindo muito meu avô contá-las, sei o quanto eles, os caboclos, são sábios. Abçs.

    ResponderExcluir
  5. bem brasileirinho esse caboclo Gilmar
    excelente !
    deixando mum abraço e desejando bom feriado .

    ResponderExcluir

Fique à vontade!
Os comentários têm a função precípua de precipitar a maturação da reflexão, do texto “apossado”. É um ponto de partida, sem o ponto de chegada. É o exercício da empatia no rompimento do isolacionismo, posto que, tudo está conectado. É a sua fala complementando a minha. Por isso mesmo fique à vontade para o diálogo: comentar, concordar, discordar, acordar...