sábado, 9 de outubro de 2010

Resiliências

"Sombras", de Samuel



Quem já não se deparou, no embate consigo mesmo, ante extremismos de escolhas? E, porque uma vez machucado, visita-lhe com insistência a louca vontade de apartar-se de tudo e de todos...

Nessa “briga”, a "alma de avestruz" mergulha na vergonha, foge da vida, se esconde dos dias e das faces, quer manter-se incólume, intocável e inatingível. Oculta-se, esperando a adversidade desaparecer. E ela não cessa!

Experimenta-se a covardia com o indelével sabor de altivez ou perfeita conduta!

Guimarães Rosa diz que “o animal, satisfeito, dorme” e penso que, dormindo, vulnerável se torna. Isso quer dizer que quando se permite dormitar em si a indolência, a injustiça, a desesperança, o negativismo, o pessimismo, a empáfia e a intempestividade das emoções, então é porque se desaprendeu a reconhecer-se capaz de suplantar desencontros; desaprendeu-se o compasso das utopias e as crenças já estão prestes a desfalecer nos próximos passos na estrada, que se fez íngreme demais!

Com tanta intemperança dormitando, o “inimigo”, que morava lá fora, já aluga espaços, mobília e acomoda-se dentro. O mundo ao redor passa a ser visto pelos olhos do medo, da banalização de valores, da negação ao amor e da intolerância à compaixão.

Esses olhares, pequenas sementes de imundícies, são regados a sentimentos de dores extenuantes, de abandonos cruéis, de inverdades maltrapilhas e de “absolutização” de conceitos.

É a escuridão profunda que teceu raízes largas e  coloriu de um preto abismal o túnel da vida, fazendo ruir toda defesa, até quedar-se, de vez, prostrando-se num inconformismo estático.

Na lama da escuridão do túnel, os passos pesam, os tropeços machucam e a dor, lancinante, é vingada nos gritos estremecedores que ainda tentam acordar a maturidade da consciência.

Num espinho mais pontiagudo, plantado por sangue do próprio sangue, um grito ainda mais intenso e estarrecedor é lançado ao nada. Todavia, o eco ricocheteando em paredes de lodo fétido, impregnado de vermes de ontem, atiçam a sobriedade... Por fim, de tanta insistência, faz  respirar com dificuldade absurda.

Aos poucos se liberta de amarras de toda sorte, das sociais às pessoais, e os olhos já cismam abrirem-se. Os modelos mentais incrustados, enferrujados na escuridão, num choque de consciência do frágil inacabamento, mas ciente do necessário refazimento, permitem novos olhares, de um jeito diferente, às mesmas coisas de sempre. Outros cenários já são possíveis. “Certezas” já são contrariadas e, a compreensão, a partir de dentro, já reclama hipóteses novas, indagações novas, cores novas.

Já há luz na outra extremidade. Já há força nas pernas para sustentar os passos. A visão já tem maior alcance.

Nessa imersão profunda para dentro de si mesmo, acende-se um novo desafio, que é o enfrentamento do problema maior que a competência. E já se tem a clara consciência de que é permitido, e é preciso, aumentar a própria competência para que o enfrentamento debilite as causas e alcance êxito na solução.

As adversidades já não fazem surtar a “alma”. Aprende-se, ante extremismos de escolhas, a reconstruir-se, a refazer-se por conta das deformações impostas.

A esperança insiste existir. Os cenários futuristas descortinam a “amplidão” da estrada. Há caminhantes ladeando os passos, agora firmes e convictos, partilhando sorrisos, permitindo o calor das mãos, num irrecusável convite de mútua pertença!

E a resposta é sim!

É tempo de avançar!

Eu vou!
 

14 comentários:

  1. Gilmar, é interessante pensarmos que todo esse processo pode se dar em alguns segundos (o que é benéfico, pois o medo, quando encarado, temido e na sequência suplantado nos faz mais assertivos), mas também há os que se paralisam por longos períodos. E são estações a lhes passar e eles cristalizados, presos dentro de si mesmos. Quando acordam, a surpresa: o que temiam lá nem mais está. Perderam o tempo que poderiam ter vivenciado, de uma outra forma.
    "É tempo de avançar! Eu vou!" - faço minhas as suas palavras! Eu também vou! Um beijo!
    Deia

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  2. Gilmar,
    Tudo a seu tempo. O recolhimento privilegia a reflexão, acende a luz no tunel. Está na hora de avançar. Adelante!!! Bjsss

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  3. Gilmar Cada coisa tem seu tempo e agora é hora de seguir em frente. Estamos prontos e caminhamos para alcançar a Total excelência.

    E vamos nós avançar!!!!

    Beijos, bom domingo e quem sabe numa folga do descanso queira ler mais um capítulo da História da menina Raquel. Está ficando emocionante.

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  4. Lindo texto Gilmar, adorei!
    Beijosssssssss

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  5. Oi Gilmar
    reconstruir-se com passos firmes.
    eu acredito.
    muito bom texto
    abraços

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  6. Meu querido
    Um texto muito reflexivo e muito bem escrito.

    Deixo o meu carinho e um beijinho
    Sonhadora

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  7. Que maravilha de texto querido...reflexão e coragem de seguir em frente...ingredientes que fazem a diferença...
    Bom domingo e ótimo feriado amigo...beijos...
    Valéria

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  8. Então, tá aí! A descrição pormenorizada do processo! E quem não o reconhece, que atire a primeira pedra!

    Só que vc pegou pesado... Faltaria-me coragem para chamar o "inconformismo estático" de "paredes de lodo fétido, impregnado de vermes de ontem". Mas, reconheço, uma pitada de um excesso necessário.

    E vc ressurge com reflexões à toda! Obrigada por nos garantir a qualidade da leitura.

    Michelle

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  9. Gilmar querido,
    Há quanto tempo não venho por aqui para te ler e viajar nas suas rebuscadas palavras...
    Não sei se é convardia ou necessidade, porém em alguns momenttos o corpo pede mesmo que paremos para que as coisas tomem os lugares apropriados, para que as energias dissipem em todos as entranhas e nos façam agir e agir, sedentos de mudanças!
    Parabéns pelo belíssimo texto e sua capacidade brilhante de escrever tão bem!
    Obrigada pelas palavras de incentivo e carinho no meu blog, realmente estou bem melhor, sinto-me renovada e com bastante energia, mesmo que em um trabalho mais produtivo de corpo do que de mente, ainda assim anda me fazendo bem!
    Um grande abraço e que sua semana seja maravilhosa.
    Que Deus te ilumine, querido Gilmar, hoje e sempre.

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  10. Vamos todos com esperança e fé na vida.

    Um abraço!!

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  11. Gilmar,
    A força inerente na resiliência tem que haver para que possamos almejar e continuar nossa busca!
    Lindo texto.
    beijocas,
    Mari

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  12. Oi Gilmar,

    Depois da tempestade, vem a bonança... Render-se aos tormentos, jamais...

    Beijos e bom feriado,

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  13. Querido amigo!

    QUe bom tê-lo de volta dessa imersão tão necessária!
    E que bom ler de novo um texto de sua autoria,
    texto cheio de símbolos e referências, para ser lido uma, duas e quantas vezes for preciso para não passar nada sem a devida reflexão,

    nesse dia das crianças uno meu pensamento ao teu, àquele deixado em meu blog, e que possamos cada dia imitar mais a pureza e sensibilidade das crianças,

    Meu abraço especial e saudoso ao amigo!

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