terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Erro de Cada Dia

"Escrito na Areia", de Nuno Chaves



O ERRO DE CADA DIA
               Cassiano Ricardo Leite


O homem da lei decreta
que não haja mais fome,
que não haja mais frio,
que sejamos irmãos,
uns dos outros
Datilograficamente.

Nada mais angélico do que a sua íntima convicção
de que dirige o acontecimento.

No outro dia decreta
que não haja mais sede,
que não haja mais crime,
que me queiras bem.
Que é isto o que quer dizer
amai-vos uns aos outros.

Mas o seu decreto
é escrito sobre areia,
no papel, na onda,
na asa da borboleta,
no teu coração - enigma
que não se comove.

E o mundo continua
pagando o mesmo erro, o mesmo
da manhã imemorial.
E há dores ilegais,
E há lágrimas ilegíveis,
E há principalmente,

o teu coração enigma
que não se comove.

11 comentários:

  1. Você me arrepia...isso é lindo!
    Beijossssss

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  2. Gilmar,o homem tem perdido a capacidade de sentir e isso realmente é muito triste!Lindo seu poetar!Mais caminhar que ruminar eu vejo em seu blog!aBRAÇOS,

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  3. A indiferença domina os nossos tempos, já não se olha à nossa volta, olha-se apenas para o centro do eu, como se tudo rodasse à nossa volta, e esquecemos-nos que somos nós que rodamos à volta do sol, que a nossa galáxia rodopia em volta de algo muito maior e por ai adiante. O nosso universo é tão pequenino comparado com o verdadeiro Universo...

    Belas palavras Gilmar, que muito me dizem hoje, neste cantinho que por tanto tempo tive afastava.

    Como é visitar os amigos, como é bom estar aqui...

    Beijinhos doces, Ava.

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  4. Gilberto,
    Gostei demais, uma grande verdade. Parece que a comoção não é bem vista socialmente. Perdeu o prestígio. Mas nada acontece em vão, tudo tem um preço. E o resultado aí está: cada um olha pro seu umbigo e os outros que se danem. E o pior, cada dia o umbigo fica maior! Lamentável. Valeu o puxão de orelhas. Bjssssssss

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  5. Bem apropriado para os dias que estamos vivendo Gilmar
    dias difíceis , aglutinação de mentiras e incertezas do que vamos viver e ver pela frente.
    Cassiano Ricardo Leite - vou pesquisar e ler mais ele, gostei mmuito.
    falou tudo aí está o enigma ... "o coração nao se comove "
    hoje fugi um pouco da docilidade das poesias e publiquei um video que mostra bem essa inquietação que vivemos todos.
    será que temos que pagar sempre o mesmo erro?
    e sempre temos que fazer escolhas menos ruins?
    quando vamos gravar nossos decretos no coração?
    muito bom Gilmar ,obrigada
    meus abraços

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  6. Oi Gilmar,
    poesia verdadeira e dura de ler e encarar! Por isso se faz tão importante que saibamos que caminhos queremos e devemos percorrer!
    beijocas,
    Mari
    obs. Vamos sim escrver sobre os encontros e despedidas! boa dica!
    bjs.

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  7. Ah Gilmar quem dera que esses decretos fossem seguidos à risca. Quem dera, as pessoas se dessem conta do quão importante é termos um olhar menos crítico sobre o outro e apenas entender suas dores e vibrar com suas alegrias.
    Um beijo

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  8. Olá Gilmar, Parabéns pelo lindo blog, não resisti e estou seguindo.

    Infelizmente a cada dia o ser que diz humano esta perdendo a sensibilidade do AMor.
    Abraços

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  9. Gilmar
    Vivemos essa insegurança, esse fantasma da esperança que sempre nos acompanha para que possamos no decorrer de cada dia conseguir um dia ver nosso sonho realizado.

    Beijos e uma linda semana

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  10. Olá Gilmar,
    Belo poema. Retrata bem a realidade em que estamos vivendo que é a teoria da relatividade; o que é muito perigoso, pois tudo "é relativo".
    Apesar do pouco tempo, continuo te seguindo. Tá lindo o blog. Parabéns e um grande abraço.
    Saudades.

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  11. Conheci esse poema, através da novela AMAZÔNIA, da extinta REDE MANCHETE. Foi com esse texto, na voz da personagem, interpretada pela atriz Julia Lemmertz, caminhando sobre imagens apocalípticas, na floresta amazônica, que o folhetim de 1993 chegou ao fim. Hoje, quase 30 anos depois, o poema é atualíssimo. Como é, toda boa arte: Visionária! Fica o lamento, de que nossa ingenuidade continua grande, mesmo em tempos de tantas tecnologias. E há lágrimas ilegais, dores ilegíveis e, o nosso coração, que continua um enigma, que não se comove! Até quando?

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