Baú dos Caminheiros: Liene
Cerro meus olhos. Não quero enxergar as densas massas de inquietações que teimam em queimar minhas retinas. Essa realidade que muitas vezes me tira do chão e me faz querer sumir feito poeira em ventania. São lutas diárias. Banais aos olhos incrédulos daqueles. Árduas aos meus. Meu caderno está cheio de rabiscos feito letras, palavras. Escrevo sentires em linhas tortas. É como se a própria mão negasse a transcrever a tortura da dor. Eu tento. A secura é mais forte. Debruço sobre a mesa, no caderno já quase cheio de nada. Em frente há um espelho. Nele não me reconheço. Um ser patético, sem viço é o meu reflexo. Firmo meus olhos. Quero ver além daquele objeto liso frio metálico, as texturas que poderiam conter a minha carne, a face. Nada além de abrigo de desalegrias consigo ver. Não me reconheço. Devaneios povoam meus pensamentos. Meus olhos se fecham, involuntários como se quisessem o alívio me permitir. O ar entra ruidoso no meu corpo. E outras vezes mais... Endireito-me na cadeira. Quedo. Gestos metódicos na ânsia de recuperar o tino são feitos. Meus olhos pesam. Resisto ao fardo. As mãos já estão leves, penso. A caneta percorre a folha repleta de branco. A tinta borra pedidos de socorro, expurgação. Algumas páginas em branco sobram do caderno, poucas. As palavras se tornaram filtros da minha dor, porém não me livraram do sangrar. Por algum tempo tornou-se meu alívio. Mais do que imaginei. E é nelas que me debruço quando o cansaço existencial insiste em tolher meus dias.
Prosa publicada em 11 de dezembro de 2009
Eu gosto muito das falas de Liene! E já guardo, literalmente, alguns dos seus poemas que me permitiram resignificar algumas compreensões de estrada e passos largados no tempo. O Momentos é um lugar de grandes encontros... E pasmem, falando de encontros, Liene reside na minha cidade natal, onde vez por outra estou e não a conheço, entretanto, é como se eu já soubesse dela há muito mais tempo.
Importa a cumplicidade matizada pela virtualidade. Importa, como gosto de dizer, que a fala de Liene, enquanto maturação dos "textos apossados", se veste de empatia e complementações resignificadoras.
Isso explica, em parte, porque sendo admirador confesso das suas poesias, hoje eu resgato aqui uma prosa. É justamente por conta de uma dessas maturações... Como ela mesma diz no texto, fazem parte de tantas e tantas lutas, "...Banais aos olhos incrédulos daqueles. Árduas aos meus".
Então fica aqui o convite para que conheça o Momentos. Tenho certeza de que também se encantará!
Olá Gilmar,
ResponderExcluirvim fazer uma visita já devida faz muito tempo e pelo facto peço desculpa. Apesar disso não me esqueci nem esqueço dos amigos e aqui estou. :)
Visitei o "Momentos" e mesmo que de corrida gostei do blog e de alguns dos poemas que li. Gosto muito especialmente deste texto com que muito me identifiquei pois as palavras para mim são uma catarse libertadora. Obrigada por este momento e um beijinho, Ana Casanova.
Olá meu amigo Gilmar!
ResponderExcluirLi com atenção este texto e ele é dos tais que me dão prazer de ler.
Parabéns e continue, eu aqui estarei para o visitar.
Um grande abraço.
Uma boa semana.
Olá. Bom dia e boa semana. Abraços.
ResponderExcluirBrava, Gilmar? Como poderia com um carinho desses?
ResponderExcluirFiquei muito, muito feliz ao saber em saber que republicou esse texto. Há poucos dias estava relendo antigas postagens e justamente esse me fez refletir um pouco mais sobre meus "momentos" de escrita. E se observar pode perceber que minhas palavras andaram ausentes por algum tempo. Talvez seja porque elas estejam passando por esse momento de "maturação" que você mesmo disse ou porque simplesmente fugiram...rs
De qualquer forma a citação desses meus pequenos fragmentos de vida deixaram um sorriso estampado em meu rosto nessa tarde nublada e a sincera gratidão pelo carinho da lembrança.
Obrigada de coraçãooooo!
A paz esteja contigo