Meus Rabiscos
Meu jeito de dizer que te amo é torto,
carregado de erros, sinônimos de mim mesmo. Não se parece com contos de
fadas e nem rimas sabe aprontar. Mas você sabe o grande segredo: o
segredo de quem é o homem que este jeito sabe guardar!
Meu jeito já não carrega mais a
delicadeza do namoro, dos beijos intermináveis e do abraço infindável.
Ele agora, maduro, ainda conhece os lábios, mas as falas por eles
pronunciadas têm o gosto da cumplicidade. O abraço é aconchego de sonhos
que não morreram. Sobrevivem à rotina.
É
o jeito de aprender a plasticidade humana, no meu espelho cotidiano. De
oferecer paciência, quando há pressa. De sussurrar, quando a vontade é
gritar. De olhar enternecedoramente, quando devorar se faz impossível.
Não carrega o desafio aturdido da
angústia. Não reinventa paradigmas. Não permite sobejar a melancolia dos
"prontos e acabados"! É, ao contrário, inconcluso porque se refaz a
todo instante. É avesso a milagres, porque exige esforço, dedicação,
comprometimento, entrega e compromisso. É sensível, porque sabe exercer a
escuta que multiplica.
O meu jeito não é escrito nas
novelas e não é visto nos filmes, onde a emoção convida a lágrima. Não
sai da boca dos poetas, porque a poesia já foi quase esquecida. Não
brota de textos magnânimos, pois as letras precisam acudir outros
desatinos. Não ecoa feito melodia orquestrada, pois as partituras já se
misturaram a esmo.
O meu jeito é enviesado no que
aparenta. Confunde-se com displicência e desarranjos outros, mas não é
egoísta. Carrega contradições da alma, no desvelamento do desejo. Ainda
assim é insano, pois o querer insiste ressurgir a cada passo. Acaba por
tornar-se pernóstico, pois sua parcialidade cega-lhe os rumos ante o
surgimento do que desconhece.
Acontece de ser também um jeito
clichê, perdendo-se em superficialidades e convencionalismos, porque a
mutualidade da ressonância ousa distanciar-se. Ele então confunde
proteção, de si mesmo, com necessidade de transbordamento.
Mas também se prontifica a
proclamar, em alto e bom som, o quanto visceral é. O quanto nas
entranhas ele habita. E grita, sem medos ou reservas, por que assim o
crê. Nada de exortação, convocação ou “decretos”. Grita porque se
institui enquanto parte de mim mesmo. Porque se arrancado, desfaleço.
Um jeito que encontra eco na afirmação de que “ninguém pode ensinar honestidade em palestras, lealdade com histórias, coragem por analogia ou maturidade pelo correio”. Então, o meu jeito também reclama não ser preciso debulhar palavras ao texto, engrandecê-lo de expressões cativantes, recheá-lo de superlativos mágicos e matizá-lo de verbos doces.
Meu
jeito não transita num "céu de brigadeiro". Há nuvens remoendo trovões.
Há raios que dilaceram. Mas é assim, desse jeito, no mais imperfeito,
que aprendo a reconquistar.
Um jeito que encontra eco na afirmação de que “ninguém pode ensinar honestidade em palestras, lealdade com histórias, coragem por analogia ou maturidade pelo correio”. Então, o meu jeito também reclama não ser preciso debulhar palavras ao texto, engrandecê-lo de expressões cativantes, recheá-lo de superlativos mágicos e matizá-lo de verbos doces.
O meu jeito é incandescente, pois
sua moradia é a verdade e não deixa adormecer a vontade! É metáfora
deste homem, porque os significados residem na constante busca. É cheio
de defeitos, quase irreparáveis, mas carrega, na simplicidade, o seu
maior e mais contundente axioma: você!
O meu jeito de dizer é nascido da incompletude, porque a minha outra parte, a que eu mais amo, é você.
É o meu jeito...
Créditos
Foto 01 (Equilíbrio):Crystal Davis
Foto 02: (Espelho d'água): Bruno Deroose
Foto 03: (Tempestade): Jon Liu
Publicado originalmente em 12 de junho de 2010
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