quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Olhar Feminino

Meus Rabiscos

Dos olhares que me encantam, não há como me esquivar, é o da mulher o que mais fala à alma deste homem! Esconde segredos que não consigo desvendar. E são tantos olhares num só, que é impossível deles não me enamorar!

Olhar de aconchego... Que inspira o abraço, pedaço que se dá. Olhar de paz anunciada, de ninho oferecido. É acalento de prantos, na redenção do encontro.
Olhar de luta... Que não se embrutece na diferença. Que não recua!  Que não desiste. Que persevera, porque assim faz crer sua história. Que não cede ao silêncio das sobras e nem se permite violentar na voracidade de preconceitos da segregação profissional. Não se entrega nem se deixa avassalar. Resiste! Insiste!
Olhar de dor... Que não se furta às lágrimas. Que se transforma em força brotada das entranhas. Que avança, mesmo quando os estilhaços ainda machucam os pés. Que não faz quedar ou prostrar o ânimo. Que escancara o sofrimento, mas declara um sempre recomeçar.
Olhar de saudade... Que é nascida da sensibilidade, mas não se deixa consumir por ela. Que refuta a privação e faz altaneiros os sonhos perseguidos. É feito a própria palavra, quase indecifrável em outras línguas, mas tão bem alimentada nos olhos da mulher brasileira.
Olhar de sedução... Que surge feito jeito tímido e suave de dominação, de conquista. É audácia despindo o desejo. Faz despertar no outro a ousadia pelo magnetismo das vontades confessadas. Insinuação que exala perfume. É o flerte da poesia, ou como diz o poeta, “o beijo de agora na boca de amanhã”!

Olhar de cumplicidade... Que explicita sintonia. É a simbiose do pertencimento, feito pacto da intimidade, onde já se sabe do mais profano ao mais sagrado, no mais secreto dos mundos. Não há oposições ou contraposições, somente justaposições.


 Olhar de reprovação... Que faz calar a voz no jeito de dizer não, sem gritar. É a recusa ante o fascínio da oferenda! É o jeito de dizer do pouco que a descontenta, sem contradizer sua grandiosa dádiva maternal.

Olhar carente... Que se passa por desamparado, largado e reclamando abraço, mas que no laço da sedução enfeitiça, só porque reclamou proteção.

Olhar de carinho... Que alcança a intimidade, oferecendo bonança ao desavisado. Não reprime, só sabe incluir. Não reivindica, só sabe doar. Não julga, antes sabe perdoar.
Olhar petulante... Que se prontifica intimidador. Que não é arrogante, mas atrevido. Que não é desaforado, mas que inspira cuidados. São fragmentos de autosuficiência lançados feito flechas vicejantes, abocanhadas na senda dos desencontros.
Olhar de êxtase...  Que arrebata os sentidos, confundindo tato e paladar, olfato e audição, numa entrega infindável. Os olhos, mesmo sem perder o encanto, já não se arregalam... Pausam movimentos. Semicerrados, não se apavoram e cedem seu brilho aos sussurros lânguidos. É o frenesi do instante.

Olhar de prazer... Que é confessado na intimidade, no alcance do delírio que excede, desmedido em si mesmo.

Olhar de mulher... Que na intensidade da emoção revela a fêmea consciente do que busca, nos seus múltiplos e maduros olhares. E por conta de tantas mulheres habitarem uma só e de tantos olhares repousarem numa mesma mulher, não há olhar de homem que dê conta de decifrá-los.  É legítimo então se render a ela: à mulher e seu olhar...
Crédito das fotos: Olhares.com - Fotografia Online
1- Encantamento: Carlos Pereira
2- Luta: Nuri
3- Dor: Ana Rita Jacinto Rodrigues
4- Saudade: Paulo Cesar
5- Sedução: Nuno Manuel Baptista
6- Cumplicidade: Fernando Tavares
7- Carente e Carinho: Nuno Runa
8- Êxtase: Fernando Bagnola
9- Mulher: Tiago Grácio
Publicado originalmente em 21 de junho de 2010

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