sábado, 25 de fevereiro de 2017

Um pedacinho do Livro das Ignorãças


Outros Autores

Uma didática da invenção
As coisas que não existem são mais bonitas

VII

No descomeço era o verbo.

Só depois é que veio o delírio do verbo.

O delírio do verbo estava no começo, lá onde a

Criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.

A criança não sabe que o verbo escutar não funciona

para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um verbo, ele

delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer

nascimentos —

O verbo tem que pegar delírio.


BARROS, Manuel de. Uma Didática da Invenção. As coisas que não existem são mais bonitas. 1ª parte – VII. IN: O Livro das Ignorãças. 9 ed. Rio de Janeiro: Record, 2000, p15.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Amigos Não Se Despedem

Meus Rabiscos






Amigos não se despedem, marcam novo encontro!

E se os novos afazeres não permitirem brevidade, guardam a afetividade dos passos dados e a “torcida” pelo sucesso do outro!

E se a vida lançar outros desafios, que fizerem abrir distâncias, permanecerá confiando na mão amiga estendida e no abraço disponível.

E se as dificuldades atropelarem, guardará em oração a perseverança, rogando a Deus proteção a ambos!

E se alguma tristeza invadir a estrada, na sinuosidade da vida, repetirá insistentemente sopros de ânimo no ouvido do outro, ombreando cada novo passo!

E se algum tropeço lançar ao chão o corpo cansado, saberá olhar as pegadas demarcadas no tempo, reconhecer a companhia, inspirar-se e reerguer-se por força da silenciosa presença espiritual do outro!

E, se mesmo assim, for desconhecida a amizade, não se intimidará, continuará emprestando um olhar terno e um sorriso sincero, sempre pronto ao perdão que anuncia recomeços!

E, se porventura os desencontros insistirem, caminho afora, recorrerá ao poeta para, sem vaidade alguma, continuar propondo: “...por isso se for preciso, conte comigo, amigo disponha! Lembre-se sempre que mesmo modesta, minha casa será sempre sua! Amigo!”