Conheço pessoas, tanta gente, de tantas
estradas... algumas delas ensinaram pelo exemplo a ser seguido, outras também,
mas pelo exemplo a ser recusado... Numas me reconheço, noutras me assusto,
noutras ainda vigio em mim a distância exigida.
Conheço gente que é egoísta,
que ignora o ser humano em suas frágeis caminhadas. Gente, de nariz empinado
e olhares altivos, majestosos demais e que, por isso mesmo, o outro não passa
de vassalo, de proletário no seu reino de sovinice.
Conheço pessoas que ocupam, todos
os dias, mesas e cadeiras numa sala da “coisa pública”, mas que não fazem a
menor diferença para ninguém, pois não se comprometem e não se envolvem. As
atrocidades e injustiças passeiam ao lado, tentam até “cutuca-las”, mas inertes
e “amorfas”, fingem outro mundo.
Conheço gente de temperança
fraternal, de dedicação sem precificação e que sujeita-se a sacrifícios
pessoais tão somente por complacente disponibilidade.
Conheço pessoas eivadas de
estigmas e propagadoras de tantos outros. Que se nutrem das dores alheias,
apenas para ver mitigada a própria indolência e incompletude humana.
Conheço gente que estende a mão,
com firmeza agarra a que tenta esvair-se da vida. Que segura e não afrouxa; que
acaricia e não espalma; que chama e não repulsa; que aponta o rumo e não nega
atenção. Que abraça e ensina a cumplicidade.
Conheço pessoas de benevolente
entrega, que não se prendem a estereótipos de qualquer tipo, mas renunciam e
recusam-se a pensar recompensas ou
reconhecimento. Nada de rótulos.
Conheço tanta gente e ao mesmo
tempo não as conheço mais... Em algumas vejo reflexos de si mesmas e noutras,
delas até o reflexo foge! Reconheço-me em algumas e noutras me invade o medo.
Não sei o tempo todo esta ou
aquela, mas na caminhada existencial, algumas pitadinhas de escuras e
tenebrosas faces provavelmente já tenham batido à minha porta e quem sabe até,
algumas dessas pegadas tenham ficado na estrada...
Não sei...
Se as demarquei, em momentos de
irreconhecível imaturidade, então as pegadas ficaram mesmo no tempo. Não voltam
mais, é bem verdade, mas e se fizeram estragos? Então sei que aprendi outros
passos, outros olhares, outros sonhos, outras possibilidades... E que a
correção se deu na dor do saber ser, se fez na angústia revisionista e se
consolida nos encontros íntimos de cada dia, na profundeza da alma sedenta de
humanização.
Ousar reconhecê-las já é
refazer-se e este refazimento já reinaugura outro tipo de gente...
E essa gente, em mim, eu conheço
bem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade!
Os comentários têm a função precípua de precipitar a maturação da reflexão, do texto “apossado”. É um ponto de partida, sem o ponto de chegada. É o exercício da empatia no rompimento do isolacionismo, posto que, tudo está conectado. É a sua fala complementando a minha. Por isso mesmo fique à vontade para o diálogo: comentar, concordar, discordar, acordar...