Meus Rabiscos
Vez
por outra nossos caminhos são interceptados por pessoas que já se esqueceram de
sorrir... a face tornou-se carrancuda e os olhos, fulminantemente sombrios,
revelam na voz áspera, um azedume encruado no ser.
E,
uma vez interceptados, invariavelmente a contaminação se alastra, nos alcança
de pronto e a paz já é imolada. A irritabilidade, ante azedumes servidos, já nos
invade na sofreguidão dos nossos apressados passos.
A
música, cantarolada no sossego, já sofre com os engasgos. O tom melodioso já
destempera a nota, desafina no grave e desconcerta de vez no agudo.
Descompassa-se por completo... É como se na tentativa de continuar
cantarolando, uma outra música, irritantemente alta e com um “batidão”
totalmente divergente, invadisse o palco apaziguado. Tente cantarolar uma
música ouvindo outra assim, num ritmo freneticamente divergente! É o som do
azedume!
O
sol de brilho intenso, aquecendo a manhã fria, num abraço deliciosamente
revigorador, de repente é atropelado por nuvens negras, vestidas de pavor,
“trombando” umas nas outras e fazendo ecoar monstruosos relâmpagos e
ensurdecedores trovões! É o barulho do cenário de azedumes!
Não
adianta tentar contrapor argumentos. A acidez contrária faz calar a voz,
intimidada pelo exasperado volume. A dialogicidade é violentamente golpeada,
num desespero estressante que a insanidade alimenta. Não há bom humor que
resista.
Nada
é bom! Nada vale a pena! Nada ajuda! É um rosário de lamúrias e choros! A
intolerância se casa com a amargura e se torna angústia. O ranço pobre da
imaturidade persiste. A vitimização é o discurso eloquentemente ofertado. O
egoísmo e egocentrismo se vestem de mundo cruel a impor sacrifícios, a oferecer
apenas azedumes a serem cozinhados.
Quem
já não se deparou com gente assim? Em casa, na rua, no trabalho, enfim, nos
trajetos cotidianos com seus “senões”. Humor árido, tolerância curta, paciência
exígua, sorriso escasso... O centro de todas as dificuldades, âncora de toda
falta de sorte, suporte de toda espécie de carga, feito Atlas carregando um
mundo, só que cheio de problemas irremediáveis.
E
o que fazer mediante tamanho assombro?
Nada
de mirabolantes e egocêntricas magias! Primeiro é acalmar o coração!
Aquietar o ânimo! Respirar a tolerância e paciência! A prontidão emocional e
espiritual é que permitirá rechaçar as tentativas de invasão.
Depois,
é oferecer serenidade na voz e no olhar. O semblante, quase “contemplativo”, é
convite que resvala na inquietude do outro, cutucando a reflexão exigida. A
voz, numa mansidão divina, significando amorosidade abundante, encontrará
repouso no olhar supostamente incólume do outro e tende alcançar equilíbrio.
Se
ainda assim o "contato" não se reestabelecer, então melhor esperar a
tempestade diminuir. Tente depois, num outro tempo! O exercício da reflexão,
mediado pelo diálogo e inclusividade, pode reconstruir algumas das pontes
quebradas, demolidas na impetuosidade dos azedumes alardeados.
Importa
não saborear os azedumes servidos. Importa não sujeitar-se à “culinária”
extravagante de azedumes e temperos ardidos.
A
generosidade é um bom remédio a outrem! Pode servir! Não há
contraindicação!
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