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Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o
amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que
o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco
o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem
dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são
meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição
me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com
assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam
acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos
na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta
que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os
procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como
são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo
que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto
pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles
morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela
vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e
fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem
junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando
comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só
desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
Paulo Sant’Ana - Colunista do Jornal Zero Hora (Extraído do
Livro O Gênio Idiota)
É bom saber:
O texto acima é comumente atribuído a Vinícius de Moraes, mas não é. O
jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na edição de 19 de junho de 2002,
diz: “O colunista Paulo Sant’Ana recebeu esse e-mail do jornalista Emanuel
Mattos no dia de seu aniversário e, para seu espanto, identificou que o texto,
assinado por Vinícius de Moraes, é de sua autoria. Surpreso, imediatamente
ligou e desfez a confusão. A criação de Sant’Ana já deve ter circulado por
muitas caixas de mensagens com a assinatura de Vinícius, sem que ninguém
soubesse da troca de autor. Somente, é claro, o próprio Sant’Ana.”
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