domingo, 22 de setembro de 2013

Telegrama






 Carlos Drummond de Andrade

Emoção na cidade.
Chegou telegrama para Chico Brito.
Que notícia ruim,
que morte ou pesadelo
avança para Chico Brito no papel dobrado?

Nunca ninguém recebe telegrama
que não seja de má sorte. Para isso
foi inventado.

Lá vem o estafeta com rosto de Parca
trazendo na mão a dor de Chico Brito.
Não sopra a ninguém.
Compete a Chico
descolar as dobras
de sua tragédia.

Telegrama telegrama  telegrama.

Em frente à casa de Chico o voejar múrmure
de negras hipóteses confabuladas.
A estafeta bate à porta.
Aparece Chico, varado de sofrimento prévio.

Não lê imediatamente.
Carece de um copo d'água
e de uma cadeira.
Pálido, crava os olhos
nas letras mortais.

Queira aceitar efusivos cumprimentos passagem
data natalícia espero contar valioso apoio
distinto amigo minha reeleição deputado
federal quinto distrito cordial abraço
Atanágoras Falcão.

Carlos Drummond de Andrade. Telegrama, in Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 8/7/72.

3 comentários:

  1. Que boa notícias vê-lo aqui. Volta com mais textos. Boa semana.

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  2. Olá, Gilmar
    Visitando os amigos antigos de blog...
    Espero esteja bem!
    Abraços fraternos

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  3. Obg! Tive um problema com a Folha onde estava o poema ,mas vc me ajudou bastante vlw.

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Os comentários têm a função precípua de precipitar a maturação da reflexão, do texto “apossado”. É um ponto de partida, sem o ponto de chegada. É o exercício da empatia no rompimento do isolacionismo, posto que, tudo está conectado. É a sua fala complementando a minha. Por isso mesmo fique à vontade para o diálogo: comentar, concordar, discordar, acordar...