sexta-feira, 28 de abril de 2017

O Espelho e Eu




Meus Rabiscos
O espelho e seus avessos, seus efeitos quase imperceptíveis, que aos olhos assombram, porque a alma se desnuda na solidão do olhar…


Quanta distância do espelho! A imagem não guarda “parecença” alguma, desbota-se, desfigurada e estranha.


Tantas vezes parece outra pessoa, outro sujeito estático, inerte sem entender quem afinal é o protagonista. Quem é o outro? Quem é quem? E o que cada um quer do outro?


Os traços não se parecem com os pensamentos. As ideias, concepções e sentimentos desconhecem a forma da face… os olhos sofrem mais… eles se deparam com evoluções que não sabiam, ou que talvez se recusassem enxergar.


O engraçado é que não houve um dia sequer que os olhos não viram… pentearam, sorriram, choraram, procuraram sinais, lidaram com espinhas, vibraram com a barba, cutucaram a autoestima, desvaneceram ante tristezas, prostraram-se cabisbaixos no fracasso e se impuseram eufóricos no sucesso, nas conquistas comungadas. Noutras vezes, porém, intimidaram-se ante gritos emudecidos nos solilóquios ermos...


O espelho testemunhou desencontros consigo mesmo, como este de todo dia, de "senões" inócuos, esvaziados na razão, mergulhados na emoção, na loucura de uma transe, hipnótica e desconexa.


Ele também consolou quando nenhuma palavra pudesse ao menos ser balbuciada, conversou silenciosamente com os olhos, usando-os como pista escorregadia e sinuosa, um atalho para a mente insana e desprotegida da maturidade.


De frente, sem adereços e alegorias, sem dissimulações… Difícil olhar nos próprios olhos, literalmente, e fugir de verdades ou fingir … talvez por isso aquela fala de John McKay, de que “eu acredito no teste do espelho. Tudo o que importa é se você pode olhar no espelho e dizer honestamente à pessoa que vê que você fez o melhor”.


E o outro espelho, o da vida, também tem reflexos dispersos, incompletos da imagem visualizada, incertos, duvidosos se a imagem distorcida é de autoria sabida ou se é imagem propagada em deserto ardiloso.


Traçados longínquos, espaços imensos, buracos profundos de incongruência, desencontros iminentes! Mas também, de uma inexplicável beleza, de afetividade gratuita, de cumplicidade inimaginável,  de presença impensada, de vida esperançada no outro, no passo a ser dado...


Tempestades anunciadas, clamando por ventos que esparramem o negrume tosco... Travando, desesperadamente, lutas incansáveis por nuvens calmas entremeadas por um sol resplandecente, desses de ofuscar o medo e recobrar o fôlego!


É o espelho dos refazimentos de cada dia... de hoje... de amanhã...


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